terça-feira, 20 de novembro de 2018

a verdade fragilizada





Quando um fato começa a se tornar um indicador de verdade ,na nossa contemporaniedade,também se torna difícil entender o quanto realmente é possível creditar toda segurança naquilo que ele realmente reflete.
Nosso recente momento político acendeu uma polêmica jamais vista com tanta intensidade.Resultados devastadores de animosidade foram observados baseados naquilo que se convencionou como fatos incontestáveis.Terminada a eleição paramos por aqui ? ou podemos consertar tanta discórdia através do bom senso ?

25 anos após o surgimento do primeiro site na internet está claro que estamos absolutamente condicionados a aceitar verdades preparadas,prontas para consumo.
 O conhecimento , após Gutenberg,foi principalmente propagado pela escrita , um formato que se mostrou mais estável , passível de revisões e correções e mais fidelizado.

Agora,estamos num campo de batalha,envoltos por fatos , rumores,noticias falsas , calúnias e crueldades que chegam pelas midias sociais alienadas.A plataforma aberta é um ninho de inverdades que nascem a todo momento contaminando os incautos.Munidos por esta forma de pensar e agir o que se encontra é apenas uma disponibilidade de constituir o “nós” contra “eles “. O egoísmo exacerbado cego a quaisquer possibilidades de contestação
O que é mais preocupante é a diminuição do status da verdade.
Uma espécie de provação duvidosa pois qualquer fato pode se tornar a base de discussões sem fim com razões abstratas como motivação.Isso não significa que não existem verdades mas os meios para se atingi-la não se sustentam diante do caos que se estabelece.Somamos a isso a velocidade com que a tecnologia hoje dispersa os “fatos” pelo mundo com conseqüências impactantes

A informação soa como verdadeira até que seja contestada mas até que isso ocorra estará sedimentada em várias pessoas.
Na era digital ondas de pânico,malícia ,manipulações se sustentam soberanas semeando “opiniões” inabaláveis.Nunca se negou tanto o óbvio.A fé cega criada pelas certeza não questionáveis é capaz de erigir um muro entre nós.Some-se a isso o poder dos algoritmos,verdadeiros manipuladores escondidos e prontos a indicar caminhos baseados nas nossas preferências.Eles têm a tarefa de reforçar nossas crenças parcialmente modeladas impedindo a analise crítica

Somos privilegiados por termos tantas facilidades com a tecnologia.Mas não estamos cientes do despreparo que a cultura digital nos impõe.Não soubemos utilizar a força da dinâmica , os benefícios de poder entrar em contato com as boas fontes de informação. A tecnologia e a mídia não existem em separado,elas podem ajudar a moldar a sociedade.Mas isso requer que exista uma receptividade focada na moral e na ética.Despojada de pré julgamentos e disposta ao dialogo.Não ao confronto

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

desconectar



estar realmente presente significa conhecer as estações
aprender o nome dos diferentes ventos
os ciclos da lua
e ler as personalidades do mar

apreciar a beleza da imperfeição
o significado do cansaço
ouvir histórias num dialeto local

comprar algo depois de tocado
deixar-se levar por placas envelhecidas
conectar-se com aquilo que realmente somos
com as experiências que importam

domingo, 2 de setembro de 2018

o que em mim envelhece



quando percebo que os anos que passam me tiram algo,imediatamente me vem a idéia de compensação
se me tira o que há por vir me acrescenta o que para trás não havia
o gosto por algumas coisas , por exemplo
tanto se passou sem que eu prendesse por um instante entre minhas mãos
olhasse com os olhos de ver
testasse o sabor e finalmente liberasse para o seu próprio destino

hoje retenho as situações para que sejam digeridas...ruminante ser de duas patas bem assentadas espero o fluir das horas com a expectativa do silêncio
quando me olho , é claro que vejo uma outra pessoa...aquela com quem realmente pareço
não há mais longos cabelos
nem o brilho juvenil de olhos que gravaram todos os espaços sem o repouso necessário

vejo aquilo que fui transformado no que sou...dúbia visão insensata mas verdadeira em seu espectro

aprendi novas dimensões para o que não conhecia
aprendi que o limite do medo tem outro limite e tantos outros quanto forem necessarios até que o escuro da ignorância se dissipe

aprendi que o grau de afinidade com os objetos assume uma cumplicidade indiscreta
tudo tem uma história contada por fantasmas vivos e muitos que vagam em lembranças persistentes

quando reflito sobre a passagem dos anos é assim
me vem este gosto de manhã
este cheiro de terra molhada
esta saudade do mar

mas é assim mesmo
quando os sentidos se mesclam podemos dizer que a sabedoria chega sorrateira e nos surpreende inventando desculpas para o compromisso de amanhã

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

sombra


tanto de mim
se perdeu
quando você passou
a existir
em outros mundos
que pela minha sombra
é sempre meio-dia

uma tarde



quando estiveres pronta
avisa
toca o sino da quietude
atropela a tarde
e encanta o ar com teu cheiro

avisa
que sairei propagando a boa nova
aos ébrios
aos viajantes
aos nativos
aos navegantes

fuga


...mas como poderíamos ter sido algo
se em nossos corpos
a essência dos minutos não transcendeu
o efêmero ?

como estaríamos a salvo da distância
se trazemos em nossa história
a disparidade do desencontro
se ao olharmos . olhos disparados,
só nos deparamos em fuga ?

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

óbvio



o famoso Grant Study, da Harvard Medical School , confirmou que os relacionamentos aumentam a felicidade
o levantamento , o maior estudo longitudinal da humanidade até o momento , começou a monitorar 268 alunos do sexo masculino do segundo ano da Harvard entre 1938 e 1944
o estudo acompanhou estes homens durante 75 anos , medindo uma gama surpreendente de atributos psicológicos,antropológicos e fisicos (incluindo tipo de personalidade , QI,consumo de bebidas alcoólicas,relacionamentos familiares etc)

setenta e cinco anos e U$ 20 milhões de dólares em fundos de pesquisa para chegar à simples conclusão : " o amor leva à felicidade"

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

máscara



fiz de mim o que não soube
e o que poderia fazer não o fiz
quando quis tirar a máscara
estava grudada na cara
quando a tirei e vi no espelho
eu já tinha envelhecido

domingo, 12 de agosto de 2018

o que não acontece



pois há coisas que não podem acontecer na sua totalidade até o fim
são imensas demais para encontrar lugar na sucessão dos fatos
elas só tentam acontecer,experimentam o fundamento da realidade para ver se ela pode suportá-las

logo elas recuam
temendo perder integridade na materialização falha

depois restam na nossa biografia aquelas manchas brancas , sinais perfumados
aquelas pegadas prateadas perdidas de pés de anjos descalços
espalhadas em passos de gigantes por nossos dias e nossas noites

meio dia



ficou assim...

tua manhã misturava-se às outras manhãs
e eu
observador das tardes
continha o desespero
do meio dia

pulso



quando misturamos
os nossos pulsos
quem batia mais rápido :
teu presente
ou meu futuro ?

estuário



no estuário de nossos corpos
já não diviso as aguas
minhas
tuas...
já não importa...
o medo que temos é da presença
não da distância

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

o que não se pode ser



o homem consiste em tentar ser o que não pode ser,e isto é o que chamamos,com um verbo excelente : viver

seria interessante investigar em que medidas as idéias,as teorias, têm obscurecido a realidade da vida, a têm feito parecer deformada aos olhos dos que a vêem a partir de uma doutrina, e não na ingenuidade do simples viver espontâneo

néctar



tentei colher teu fruto
néctar de um patamar absoluto
tornei-me infeliz
com a profundeza de tua raiz

verdade



mentiras
que atestam a verdade
única
a persistir no insuportável
silêncio
do recolhimento

mentir que se vive
pois se respira
fala
cheira
engole
excreta
enquanto se move

domingo, 29 de julho de 2018

ficção de tudo



....depois...
muito tempo depois
quando todas as coisas já se acostumavam com sua falta
eu passei a contar os pensamentos
perdidos
mortos
e feridos
que mascarei com sorrisos

e me dei conta
que tudo não passa de ficção
que tudo tem agora
e sempre
a sua sombra

errata




onde se lê sobriedade
leia-se embriaguês

onde se lê capacidade
leia-se invalidez

onde se lê esperança
leia-se sensatez

onde se lê felicidade
leia-se lucidez

onde se lê mistério
leia-se revelação

onde se lê solitário
leia-se multidâo

onde se lê liberdade
leia-se permissão

onde se lê dúvida
leia-se conclusão

sexta-feira, 27 de julho de 2018

A cura do cotidiano




Poucas vezes refletimos sobre o processo de curar.
A transformação de um estado doentio , em qualquer nível , deveria englobar um caráter holístico.
Nós devemos curar a pessoa  , não só a doença.
Abraham Maslow no livro “ a theory of human motivation” propõe uma pirâmide de necessidades.Ele descreve as carências humanas num escalonamento de 5 níveis.Os níveis mais baixos são os fundamentais,sem os quais nada é possível.Os superiores dizem respeito a atividades ou motivações de ordem psicológica.O pleno entendimento desta escala mostra a nossa necessidade de estar bem.No estudo das relações entre os níveis , aplicados a cada pessoa em busca de uma cura , podemos entender onde suas carências mais se afirmam.Ele cita por exemplo as necessidades de estima,tanto em caráter intimo (confiança) como de pertencimentos (aos outros , o respeito).O que se pode aprender com as teorias de Maslow é que antes de mais nada precisamos curar o nosso cotidiano e não as patologias que o afetam.Essa intenção requer uma atenção terapêutica renovada,uma consciência do nosso social e o que pode , e deve , ser superado.
Essa proposta pode ter suas falhas como a própria questão de prioridades mas tem o mérito de ter tocado no ponto essencial : a nossa realização passa pela tradução de nossas pontencialidades em atos
A medicina ocidental se prende em demasia aos sintomas e veta,imperceptivelmente, o entendimento das causas essenciais.Muitas doenças vêm do ambiente social , do permanente processo civilizatório.Uma civilização doente em ética e moral gera indivíduos doentes,é possível concluir.Tem se tornado muito difícil transformar as representações que temos de nós mesmos e do mundo.Daí podemos inferir que a doença é ao mesmo tempo uma patologia objetivável pela ciência,um problema vivido subjetivamente pelos pacientes e um acontecimento social que se mescla à sua comunidade.Será que estamos preparados pra ajudar os pacientes na sua busca pelo sentido simbólico que é vinculado às suas doenças ?.Maslow afirma que essa é uma expectativa de cada um ao adoecer e é uma esperança favorável para o processo de cura.A ciência médica está pouco preparada para o sentido coletivo das doenças.Em diversas culturas tradicionais este ocupa um lugar primordial nos rituais terapêuticos.Se não refletirmos sobre a maneira como “enxergamos” os problemas estaremos correndo o risco de apenas medicalizar.A pessoa pode não mais existir.O doente (como representação daquele que sofre) também e até mesmo a doença (como provação existencial) pode desaparecer em proveito apenas dos sintomas. A cura do cotidiano não pode ser apenas quantificável.Nosso equilíbrio e saúde dependem da qualidade que estabelecemos entre nós mesmos.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

o que ?


o que resta após uma espera não concretizada ?
após o olhar perder-se na procura ?
após o não encontro ?

o que resta quando a expectativa é maior do que o racional....após os segundos que passam enquanto se passa....após a distância aumentar ?

o que resta quando o alimento da alma não é o mesmo da razão ?

terça-feira, 12 de junho de 2018

o direito de morrer







O cientista australiano David Goodall , 104 anos , viajou até  a Suiça a fim de se internar numa clínica onde o suicídio assistido (sob orientação médica) é permitido.Ele não estava doente nem apresentava algum problema psíquico.Para quem perguntasse sua resposta era simples : “estou cansado de viver”. O jornal New York Times retratou sua atitude como uma celebração da morte com dignidade.
Goodall é mais um a escolher um final para sua vida e o suicídio assistido é considerado legal em vários países e em estados americanos como o Oregon e Washington.Os debates sobre o direito de morrer têm sido intermináveis e levantam questões polêmicas.Quem tem o direito de terminar a vida e porquê ¿ Qual é a definição de uma vida que não vale mais a pena ser vivida ¿ Onde as decisões do paciente , seus melhores interesses , são soberanas ¿
Na maioria dos casos , aqueles que escolhem a morte com dignidade estão sofrendo de uma doença incurável.Mas nem sempre é o caso : Aurelia Bronwers após 8 anos de intermináveis batalhas judiciais conseguiu convencer a corte de juízes que sua depressão grave tornara sua vida insustentável.Aos 29 anos de idade conseguiu a permissão para o suicídio assistido.
Goodall não estava doente mas sim bastante fragilizado pela idade.Ele não queria ter mais tempo.Em cada caso a idéia de liberdade se encontra com a vida na sua essência e suas questões morais.Por tradição, a maior oposição a qualquer forma de morte assistida é de natureza religiosa.Os dogmas religiosos se dividem em interpretações de como o final da vida deveria ser.Alguns ressaltam a questão da preservação mas não ao custo de medidas extraordinárias ou artificiais.
Tanto na questão do aborto ou da eutanásia nós encontramos uma forte tensão natural na idéia da escolha : todos teríamos o direito de decidir o que fazer com nossos próprios corpos ¿ Contrapondo a isso temos a razão de que sempre é necessário preservar a vida.Os paradigmas religiosos , tradicionalmente , dão uma qualidade sagrada ao ato de viver.No entanto na prática médica nós frequentemente  nos deparamos com situações on de a vida e a dignidade não coincidem.O aumento da expectativa de vida nos faz perceber que existe um limite de idade onde a morte já não surpreende.Muitos chamam este evento de “causa natural”.É possível que o ser humano considere que já tenha vivido o suficiente para morrer.
David Goodall morreu ouvindo a musica “ Ode à alegria”.Poema escrito por Friedrich Schiller e cantado no quarto movimento da 9 sinfonia de Beethoven   

quinta-feira, 3 de maio de 2018

museu das nossas coisas








está ali
a garrafa de agua
pela metade

ao lado a xícara
com a marca , irreconhecível , de batom

outras coisas se perdem
ao não se permitirem possíveis
de serem abraçadas pelo olhar

muito fica silente
livros ancorados
discos descasados
meia sem par

quarta-feira, 2 de maio de 2018

aparência



são premeditados os nossos gestos
aquilo que expressamos já é muito igual
a fala está próxima ao aparelho....para quem você fala ?

são possíveis as nossas reações
sorrimos um riso não natural
pois é assim que se faz....assim que nos tornamos mais um
mais nada

são aparências as nossas sombras
o amor não encontra mais sua calma
não se realiza ao se transmutar em fragilidade

para quem você fala de amor?

quinta-feira, 26 de abril de 2018

o que é real


na vida virtual existe uma insistência para meramente explicar tudo de forma neutra
mas por definição não pode haver neutralidade pois se prioriza algo sempre

a vida virtual foi designada para maximizar a atenção , então se enaltecem posts com mais cliques e controvérsias

as experiências online e real estão mais inseparáveis a cada dia
o que se vê deve levar impacto no que se faz no mundo

o grande problema é que a distinção se torna mais nebulosa a ponto de gerar padrões de comportamento absolutamente arquétipicos
isso é evolução ?

quarta-feira, 25 de abril de 2018

desempenho



a maior plataforma social do mundo
2 bilhões de usuários
a sociedade do desempenho vagarosamente aprende que não é cliente e sim produto

o facebook dá lembranças de datas , uma determinada atenção
em troca de seus dados que depois venderão produtos , ideologias e elegerão politicos

a sociedade do desempenho por enquanto espera um clique

terça-feira, 24 de abril de 2018

o que acaba restando



não é o espelho que está embaçado
mas
o que permanece não dito

uma vida pode se tornar refém
como uma tarde decapitada
de algo que não ocorreu

continuamos a insistir
no paradoxo do tempo
assim
o que acaba restando são migalhas

domingo, 22 de abril de 2018

precisamos falar sobre antidepressivos











Um estudo bastante extenso,envolvendo mais de 100 mil pacientes,foi publicado na prestigiosa revista britânica Lancet sobre a eficácia das drogas antidepressivas.Este foi mais um trabalho que busca esclarecer os reais benefícios desta classe de medicamentos.Um problema de credibilidade , de inicio , foi levantado : 78% do que já foi publicado sobre essa questão tem o apoio de industrias farmacêuticas que , de maneira óbvia,publicam apenas resultados favoráveis aos seus produtos.A população estudada incluiu pacientes com depressão moderada a grave e tinha como objetivo avaliar mudanças na escala de depressão de ,pelo menos , 50% após 8 semanas em uso de medicação.Porém analisando-se os resultados não foi possível afirmar-se com certeza que na prática clínica essas drogas seriam significativamente decisivas na melhora dos pacientes.Os estudos fazem comparações com placebo (um comprimido de forma idêntica ao medicamento porém sem nenhuma substância ativa). É muito importante destacar o numero de pacientes que se sentem melhor nesse grupo.Sabemos que até 40% das pessoas usando o placebo relatam um bom resultado após o período de 8 semanas.O estudo do Lancet concluiu que se 10 pacientes depressivos tomam medicamentos por dois meses , 5 irão relatar uma melhora mas em 4 destes não será efeito direto da droga.O mais importante não foi respondido  : qual o efeito das drogas em casos leves de depressão ¿ quais seus reais efeitos após 8 semanas ¿ quais os efeitos colaterais e sua magnitude ¿ quais os riscos de descontinuar um tratamento ¿  qual o real beneficio comparando-se os antidepressivos com terapias não medicamentosas ¿
É oportuno refletir sobre tanto a se conhecer.O que significa se referir a alguém como doente ¿ Qual a decisão certa a ser tomada quando se decide medicar ¿Existe uma crucial incerteza em se explicar o comportamento de algumas pessoas.Podemos constatar que a medicina está perdendo o diagnosticador para o especialista terapêutico.A sociedade aceita,infelizmente,até por comodismo,a medicação como solução.Se damos autoridade a uma droga como “tratamento” ,à pessoa como “paciente” , e ao seu pós tratamento como melhora acabamos de definir uma resposta terapêutica como um critério diagnóstico

O filósofo Gilbert Ryle , no livro the concept of mind , escreveu que é um erro tratar a mente como um objeto.A medicalização que observamos hoje é uma consequência da transformação das explicações religiosas para explicações médicas que surgiram após o Iluminismo.O excesso de medicamentos não é medicina ou ciência. É uma estratégia semântico-social que beneficia a poucos e prejudica muitos

um problema silencioso








Existe um problema de saúde que custa muito e afeta muitas pessoas.Chama-se não aderência à prescrição de medicamentos ( ou seja : não tomar a medicação ou tomá-la de forma errada).
Os números que vêm à tona são impressionantes : 20 a 30 % das medicações prescritas nunca são adequadamente tomadas.Em 50% das doenças crônicas , que requerem que as drogas sejam de uso contínuo , elas são erroneamente ingeridas.Cerca de um terço dos pacientes transplantados renais não usam suas medicações anti rejeição.41% dos indivíduos hipertensos estão com o tratamento descontinuado e metade das crianças com asma não usa seus inaladores consistentemente.
Este problema é estimado em causar cerca de 125 mil óbitos e aproximadamente 10% das hospitalizações por ano nos Estados Unidos.E tem um custo : 100 a 289 bilhões de dólares para o sistema de saúde
O cirurgião Everettt Koop comenta que " as drogas não funcionam em pacientes que não as tomam.Isto explica , muitas vezes , que novas medicações têm resultados muito bons em fase de estudo e funcionam menos na vida real ".
A não aderência é um amplo problema e não se visualiza uma solução uma vez que existem diferentes razões para sua origem.Por exemplo : os pais interrompem o tratamento da asma de seu filho porque não gostam da idéia de manter " uma criança usando uma medicação contínuamente".
Outros pacientes enxergam a droga como uma " quimica" ou um produto "não natural ".Para alguns , aderir a novos hábitos de dieta e de exercício os farão deixar de lado a necessidade de uma medicação.Os remédios responsáveis pelo tratamento de situações silenciosas , como a hipertensão , são desprovidos de efeitos sintomáticos.Isso significa dizer que não trarão benefícios de alivio de nenhum sintoma, por isso tendem a ser descontinuados com bastante frequência.
Na infectologia o uso de antimicrobianos de forma inadequada (principalmente com doses ou tempo de duração incorretos) implica na temida resistência bacteriana
O custo é outro ponto importante.Preços altos , quando não podem ser subsidiados , impedem até o próprio inicio de tratamento.
Diante deste panorama tão relevante esse é um desafio do médico na compreensão do seu paciente.Uma maior empatia , um controle mais acessível , uma discussão aberta e frequente podem ajudar.
Mas esbarraremos sempre na enorme diversidade do indivíduo e suas pretensões.
Esse é o problema silencioso que está por trás de toda relação médico - paciente.

segunda-feira, 12 de março de 2018

apenas sentir











Sempre se pergunta qual o motivo para algum sentimento.
Existe um principio que deveríamos seguir.
O que não se racionaliza apenas se sente.Deixa-se fluir.
Como um curso de agua que se forma após qualquer chuva.
Tem seu propósito.Respeita obstáculos.
Para.
Segue.
Cria uma pseudo permanência.
Depois pode evaporar.

Terá cumprido seu destino

domingo, 11 de março de 2018

desilusão






Acima de tudo,a distinção entre o amor e a desilusão não é tão distinta como imaginamos
A potencial presença de um elemento de desilusão no amor pode servir como importante função de alerta nesse processo

Mas após tanto....a desilusão persiste....o amor morre

sábado, 3 de março de 2018

os limites da compaixão




O atentado recente em Parkland,na Flórida foi o 18 somente neste ano.Há apenas 5 meses um atirador matou 58 pessoas em Las Vegas e cerca de um ano e meio atrás 49 frequentadores de um clube noturno em Orlando foram brutalmente assassinados nas mesmas circunstâncias.Nós deveríamos vivenciar a cada nova morte mais empatia , mais tristeza.Mas não.É próprio do ser humano se sentir desprovido de um sentimento de choque.Existe um conceito psicológico que ajuda a explicar essa insensibilidade diante das tragédias que se repetem,Diante do aumento do numero de vitimas nossa indignação e disposição para fazer algo na verdade diminui.Essa tendência é chamada de letargia psíquica.Essas atrocidades se tornam abstrações em nossas mentes e passam a ser progressivamente atenuadas e até mesmo ignoradas

O psicólogo Paul Slovic , expert na área , diz que não há um valor constante para a vida humana.Uma vida individual vai perdendo sua importância contra o pano de fundo de uma grande tragédia.Um recente estudo publicado por ele demonstrou esse fato.Slovic perguntou a várias pessoas sobre a disposição de doarem dinheiro para crianças com necessidades.Na medida em que o numero de crianças aumentava e o processo de doação se tornava mais frequente havia um decréscimo evidente no ato.Uma dessensibilização.

Na primeira vez que algo realmente chocante acontece ele impacta de modo significativo a maioria de nós.Em 1999 , dois estudantes assassinaram 12 colegas e um professor em Columbine,Colorado.A nação americana foi atingida duramente.Esse momento despertou o conceito dos atentados em escolas.Mas agora,com a repetição dos fatos,a repercussão passa como uma brisa.Nossos sentimentos não atuam como a matemática.Nós , na verdade , estamos mais focados naquilo que nos influencia diretamente : proteger a si próprio , proteger as pessoas próximas a nós.Podemos chamar isso de efeito da singularidade : a hipervalorização da vida individual

Paul Slovic explica melhor.Uma das razões é um sentimento de desamparo.Com o número de vitimas desse tipo de tragédias sempre aumentando nós nos sentimos impotentes para ajudar.Então afastamos o sentimento de empatia.Mas esse desamparo deveria ser encarado como uma mentira.Mesmo soluções mínimas, como leis mais rígidas sobre o controle de armas, podem salvar vidas.
Nem todo mundo é insensível , é claro.Mas pessoas que podem fazer a diferença não deveriam ter esse comportamento.Lutar contra a insensibilidade é um ato de conscientização muitas vezes difícil.Deveríamos ultrapassar os limites da compaixão
Uma morte é uma tragédia.Milhares de mortes não podem ser uma abstração

onde morrer




Até o século passado o lugar apropriado para morrer era em casa , rodeado pelos familiares.Com as extensivas transformações sociais causadas pela urbanização e pela difusão dos hospitais associada às grandes evoluções da medicina, a morte foi deixando progressivamente o lar dos doentes.Até 1940 a maioria das pessoas morria em seus lares mas apenas uma década após, 60% já eram hospitalizados.Com a propagação das unidades de terapia intensiva , com as novas tecnologias , com a extensão da expectativa de vida, os hospitais tornaram-se não só um centro de melhores cuidados mas um local onde a vida passou a ser prolongada em direção ao seu destino inevitável.Por força de ser um setor onde se convive com a gravidade e a fragilidade da doença o fim da vida tornou-se mais solitário .

A medicina vem mudando a forma de morrer. O médico vive a experiência da morte mais como um conceito ou processo do que um ponto final.Existe um calvário penoso que alguns pacientes apresentam : quanto mais medicalizada a morte, mais tempo eles  convivem com esse processo.A linha divisória entre vida e morte fica menos definida.Benjamin Gompertz , um matemático britânico , escreveu em 1825 que existem dois direcionadores para a mortalidade.Um extrínseco : acidentes e doenças.Outro intrínseco : ele chamou de as sementes da indisposição.Nós hoje sabemos que este termo pode ser traduzido pelo conhecimento da morte celular.Todo o progresso que conseguimos nos últimos anos foi exatamente em minimizar ou atenuar esta evolução decisiva.Mas os avanços em aumentar os anos de vida de uma pessoa proporcionam um crescimento de doenças crônicas.Assim nos tornamos reféns do tempo que nos aproxima da morte.Vivenciamos mais esta passagem sem estarmos de fato preparados para o desfecho.

Nossos ancestrais nasciam e morriam nas cavernas.Assim como a nascimento , a morte para muitos dos nossos familiares poderia ocorrer na mesma cama.A medicina moderna criou uma situação pesarosa para quem lida com pacientes no final da vida,Nós começamos buscando as soluções para evitar a morte , entendo-a como um inimigo.Porém ,ao longo do tempo,nós presenciamos estados vegetativos  que nos parecem tão desumanos,destituídos de dignidade.O final da vida vem se tornando mais uma negociação do que uma discussão.Neste momento a reflexão é a melhor saída : um equilíbrio entre o que deseja o coração e o que a mente conhece.Thomas Starzl , o primeiro médico a realizar um transplante de fígado , definiu a vida como uma curva em declínio,lentamente nos aproximando da morte

domingo, 18 de fevereiro de 2018

o óbvio



O escritor George Orwell disse que devemos sempre procurar afirmar o óbvio e anular as ortodoxias duvidosas que nos impedem de aceitar verdades simples a nosso respeito.
Estamos vendo o mundo através de uma miríade de lentes distorcidas.
TS Eliot escreveu que se a humanidade não conseguir tolerar a realidade irá optar por algum tipo de fantasia.

Negar a realidade sempre é mais desejável quando esta não nos é favorável.É totalmente verídico que muita indiferença se veste de compaixão.
Há um mundo que nos permeia recheado de violência , descaso , crueldade e com um comportamento egoísta.

Nossas analises são limitadas ao mundo ao nosso redor ou ao mundo das redes sociais.As referências estão se tornando as mesmas.Nas telas se repetem gestos , sorrisos e as mesmas palavras.Todos absolutamente falsos e egocêntricos

Querem nos impor um óbvio plastificado como cultura.
Cultura no sentido antropológico da soma de modos de vida.Assim obscenidades são transformadas em "expressões culturais".A vulgaridade se encorpa no discurso da apropriação cultural , a mais nova moda politicamente correta.
O significado moral se perde na perversão.A dita liberdade vulgariza o normal e o deforma a seu critério.

Vemos o egoísmo nos prazeres momentâneos propagados como diversão.Vemos um e vimos todos.


assumir responsabilidades



Está errado pensar que todos querem ser livres.
A liberdade acarreta responsabilidades.Muitos querem ser livres para fazer o que quiserem desde que alguém assuma os erros

Um exemplo clássico é quando falamos em vícios.
O conceito prevalente é de uma doença marcada por um ímpeto irresistível para consumir drogas ou para se comportar de maneira autodestrutiva ou antisocial.Muitos transferem a responsabilidade de seus atos para outra direção.Assim tentam exonerar qualquer conduta imprópria
No centro dessa recusa de responsabilidade está um desonestidade.

Usuários de drogas enfatizam o desejo irresistível , a dificuldade da abstinência , os efeitos das drogas sobre seu comportamento.
Mas é bom lembrar que ninguém se torna viciado de um dia para outro.Existe um processo que muitas vezes leva anos para se consolidar.
E neste tempo sempre existe a opção por não tornar-se um adicto

O ser humano sempre teve a capacidade de se enganar e aos outros também.Nietzche falou que o orgulho e o amor próprio não têm a dificuldade de superar a memória.A facilidade com que as pessoas rejeitam suas responsabilidades - antes de mais nada uma desonestidade intelectual - aumenta a cada dia

Um grande erro foi construído nos ultimos tempos : a idéia de que . se a pessoa não conhece ou compreende os motivos inconscientes de seus atos , não é responsável por eles.

Desta forma , iremos sempre contemporizar a irresponsabilidade.Afinal de contas,num mundo infestado pelo politicamente correto , será execrado quem apontar o dedo para verdadeira culpa.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

uma outra infelicidade



Quando revelamos nossos pensamentos nos tornamos vulneráveis.Estamos expondo o que existe de singular , a essência de nosso ser.Isso pode gerar repreensões , ridicularizações e outros sentimentos de avaliação.Voltaire dizia que a melhor maneira de ser chato é contar tudo.Mas esta também é uma forma de ser tolo.Confidências deixam de sê-las ao serem reveladas.Muitos recusam um julgamento com medo do equívoco.Talvez possa se explicar o sucesso do Facebook e afins : um contrato social onde fingimos se interessar pelas trivialidades dos outros contanto que eles aceitem as nossas.Com isso é possível se expressar sem a dolorosa necessidade de pensar ou refletir.

Mas os hábitos se tornam o carater e o habito da superficialidade passa a exigir gestos extravagantes.Uma necessidade de atenção

Feita essa introdução o importante é criticar essa popularidade da quimica do cérebro como explicação para todo comportamento humano.A partir dos anos 80 drogas antidepressivas tiveram o maior marketing da sua história com a proposta de tratar disturbios da serotonina.A ressaltar : sem nenhuma comprovação científica que isso ocorresse.
A depressão era e é explicada , segundo essa teoria ,pela falta de neurotransmissores.Essa difusão de drogas possibilitou um fenomeno de venda assustador.São milhões de pessoas em uso de antidepressivos.

Se alguem admite ser infeliz,pode ter sido por uma conduta,tola ou imoral e ele é acusado por isso.Se é depressivo ela é vitima de uma doença.Poucos então vão admitir que são infelizes,uma evasão incrivel.
A depressão anula o sujeito e o torna um objeto.

O luto é permitido por duas semanas segundo o manual diagnóstico e estatistico de transtornos mentais.Uma besteira sem tamanho como se não fosse uma noção empobrecida da vida humana.

Tornar a imensa complexidade de nossas vidas uma coisa simples e reduzi-la à interação de alguns neurotransmissores é um dos maiores desastres da psicologia.

Einstein afirmou que as explicações deveriam ser o mais simples possível,mas não mais simples do que possíveis.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

escolhas certas





















Um dos livros que recomendo é : Nudge – O Empurrão para a Escolha Certa aprimore suas decisões sobre saúde, riqueza e felicidade”.


Trata-se de uma linha de pensamento relativamente desconhecida entre economistas brasileiros: a Economia Comportamental.


Em sua Parte I – Humanos e Econos se avaliam os dois sistemas de pensamento (automático e reflexivo), vieses e erros grosseiros, regras práticas, ancoragem, disponibilidade, representatividade, otimismo e confiança excessiva, aversão à perda, viés do status quo,  enquadramento, resistência à tentação, escolhas desatentas, estratégias de autocontrole, contabilidade mental, comportamento de manada, poder de influência social, efeito holofote, mudança cultural, mudança política e imprevisibilidade, cutucadas sociais, evocação, escolhas consistentes, veredito misto do mercado. .


A diferença notável é que Thaler é um economista, portanto, denomina-se o que ele escreve de Economia Comportamental. Mas ele não se apresenta nem como psicólogo econômico nem com economista comportamental, mas sim como um arquiteto de escolhas!
Um arquiteto de escolhas tem a responsabilidade de organizar o contexto no qual as pessoas tomam decisões. Os autores esboçam seis princípios da boa arquitetura de escolhas.
  • Escolhas com estruturas complexas
  • Entender mapeamentos
  • Esperar erros
  • Incentivos
  • Opções predefinidas
  • Fornecer feedback (retorno)
Não existe design neutro. Uma boa regra geral é partir do princípio de que “tudo importa”. Essa sacada pode ser tanto paralisante quanto emancipadora. Um arquiteto de escolhas deve influenciar as pessoas tomarem boas decisões, dando uma cutucada, uma orientação, ou seja, em inglês, nudge.


Os autores fazem parte do novo movimento do paternalismo libertário. Desde logo, ressaltam que essas palavras estão carregadas de estereótipos da cultura política popular captada por dogmáticos. No entanto, o aspecto libertário de suas estratégias consiste na insistência clara de que, em geral, as pessoas devem ser livres para fazer o que quiserem – ter a opção de sair de arranjos indesejáveis se assim quiserem, ou seja, as pessoas devem ser livres para escolher. Quando usam o adjetivo libertário para modificar o substantivo paternalismo, querem dizer simplesmente algo que preserve a liberdade. Os paternalistas libertários querem que as pessoas possam facilmente seguir seus caminhos; não querem sobrecarregar aqueles que desejam exercer sua liberdade de escolha.


O aspecto paternalista reside na afirmação de que é legítimo que os arquitetos de escolhas tentem influenciar o comportamento das pessoas a fim de tornar sua vida mais longa, saudável e melhor. Em outras palavras, defendem esforços conscientes por parte de instituições do setor privado e também do governo para orientar as escolhas das pessoas rumo a direções que irão melhorar sua vida. Segundo entendem, uma política é “paternalista” quanto tenta influenciar as escolhas feitas por uma pessoa de modo a melhorar sua vida, segundo o próprio julgamento.


Utilizando algumas descobertas comprovadas da psicologia cognitiva e das ciências sociais, mostram que, em muitos casos, os indivíduos não escolhem o melhor para si, pelo contrário, fazem escolhas bastante ruins. Os economistas comportamentais não concordam com a teoria racionalista, suposta de validez universal, que afirma que, em Economia de Livre Mercado, todos os participantes, sejam indivíduos, sejam países, se beneficiam de seus atos voluntários de intercâmbio econômico, caso contrário, não os executariam. Na realidade concreta, os Humanos, diferentemente da abstração racionalista dos Econos, não teriam feito aquelas escolhas ruins apenas se:
  1. tivessem prestado toda a atenção, e
  2. tivessem informações completas, capacidades cognitivas ilimitadas e autocontrole pleno.
A abordagem que recomendam é considerada como paternalista porque arquitetos de escolhas privados e públicos não estão simplesmente tentando rastrear ou implementar as previsões de escolha das pessoas. Em vez disso, estão, conscientemente, tentando guiar as pessoas em direções que irão melhorar a vida delas. Estão dando uma cutucada ou orientação que altera o comportamento das pessoas de maneira previsível sem proibir nenhuma opção nem mudar significativamente seus incentivos econômicos.


As cutucadas não são ordens impostas de maneira totalitária. Embora rompam com o pressuposto racionalista de que “cada qual sabe o que é melhor para si” (ou “sabe onde doi seu calo”), a intervenção orientadora deve ser fácil (e sem custo) de evitar. O problema é que muitos economistas parecem, ao menos implicitamente, comprometidos com a ideia de Homo Economicus, ou seja, a noção de que cada um de nós pensa e escolhe infalivelmente bem e, portanto, se encaixa no retrato canônico que a teoria econômica ortodoxa apresenta dos seres humanos.
Se alguém ler os livros de Economia, aprenderá que o Homo Economicus é suposto ser inteligentíssimo, com memória de tudo, além de possuir tremenda força de vontade. No mundo real, nem nós nem as pessoas que observamos são assim. Elas não são os imaginários Homo Economicus, são sim os reais Homo Sapiens. Já os especuladores profissionais, conhecedores de suas limitações humanas, adotam regras práticas de decisões, tornando-se Homo Pragmaticus


segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

individuação



















Muitos de nós estamos fazendo travessias para as quais quase não encontramos compreensão.
Essa travessia — chamada de individuação — é longa, dura anos, muitos anos, e a melhor metáfora para ela é a da morte e do renascimento do que os antigos chamavam de alma, mas que nós podemos relacionar com a psique, com as emoções, com o mental e, inclusive e sobretudo com o corpo.
Um mundo acaba e outro mundo, lentamente se anuncia.


A existência torna-se pesada.Todo o tesouro de compreensão que nos constituía e nos permitia viver, deixa de ter qualquer vitalidade. É como se, de repente, fôssemos reduzidos a uma miséria sem fim; nossas narrativas — sobre nós mesmos e sobre o mundo — deixam de ter força na e para a ação.


A palavra mesmo nos escapa e só nos resta o silêncio e a contemplação enigmática da vida. Miseráveis, pobres, vazios, insuficientes… reduzidos a um não sentido.


Olhe para o lado e vislumbre o mesmo do mesmo.Quem entende a importância do pensamento analítico vive hoje em modo esquizofrênico.Só as vozes interiores fazem sentido



quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

a ameaça da febre amarela







A febre amarela é uma doença infecciosa que pode ser grave, causada por vírus (flavivirus) e transmitida por mosquitos. Geralmente, a maioria dos pacientes não chega a apresentar sintomas ou os mesmos são muito fracos. As primeiras manifestações da forma clássica da doença são: febre alta, calafrios, cansaço, dor de cabeça, dor muscular, náuseas e vômitos por cerca de três dias. Após um período de bem-estar (até dois dias) podem ocorrer insuficiências hepática e renal, icterícia (olhos e pele amarelados) e manifestações hemorrágicas


A febre amarela ocorre nas Américas do Sul e Central, além de em alguns países da África  em áreas urbanas ou silvestres. Sua manifestação é idêntica em ambos os casos de transmissão, pois o vírus e a evolução clínica são os mesmos — a diferença está apenas nos transmissores. No ciclo silvestre, em áreas florestais, o vetor da febre amarela é principalmente o mosquito Haemagogus. Já no meio urbano, a transmissão se dá através do mosquito Aedes aegypti (o mesmo da dengue). Além do homem, a infecção pelo vírus também pode acometer outros vertebrados. Os macacos podem desenvolver a febre amarela silvestre de forma inaparente, mas ter a quantidade de vírus suficiente para infectar mosquitos. Uma pessoa não transmite a doença diretamente para outra.


A vacina contra a febre amarela existe desde 1937 e apresenta um alta taxa de proteção que é duradoura,ou seja , não é necessário revacinar quem já foi vacinado.


Os casos que estão surgindo desde julho de 2016 no Brasil correspondem à forma silvestre.


No momento existe uma campanha para a imunização dos locais que vêm registrando incidência elevada


A população de e São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia receberá a dose fracionada da vacina de febre amarela (trata-se de uma vacina que necessita de reforço após 8 anos). A meta é vacinar 95% de 19,7 milhões. O objetivo é evitar a circulação e expansão do vírus.



domingo, 7 de janeiro de 2018

a confirmação de si mesmo


O amor é uma transformação capaz de nos transferir para uma natureza estranha.Essa vulneração significa sua negatividade ( a necessidade de se completar).
Hoje vemos uma crescente positivação.Permanecemos iguais e no outro só se busca a confirmação de si mesmo.

Num processo de consumo desprovido de risco e ousadia evita-se a negatividade.A paixão dá lugar a sentimentos agradáveis e excitações sem maiores consequências.O que se busca é o conforto, a espessa imanência do igual.

Ao amor moderno falta toda e qualquer transcendência e transgressão

Uma vida precisa ser uma conclusão.Longa , lenta , precedida por um demorar-se junto ao outro.
O amor é uma conclusão absoluta que não mais acontece pelo imediatismo e futilidade .Sua verdadeira essência de renunciar à consciência de si mesmo está diluída.

Estamos vendo pessoas sem conclusão alguma.Não se adquire uma imagem própria estável,que é também uma forma conclusiva.Repetem-se sorrisos pasteurizados.

Não é gratuita a era da depressão.A indecisão, a inconclusividade pertencem aos depressivos
A sociedade do desempenho não estabelece conclusões,Ao apenas confirmar-se a si mesmo torna-se a sociedade do mero viver.Repete modismos pela necessidade imperativa da inclusão.

sábado, 6 de janeiro de 2018

o imperativo da beleza





Nos últimos anos o cuidado com a pele tem crescido exponencialmente em direção a gastos , estratégias e dispêndio de tempo de modo preocupante.A recente entrada do mercado asiático , especificamente da Coréia do Sul , no ramo da beleza tem alavancado o comércio de produtos que beiram o exótico : leite de asno , cremes de placentas , colágeno de porcos etc disputam as compras pela internet.Uma máscara de uso único para ser colocada à noite chega a custar absurdos 20 dólares a unidade.O apelo da indústria vem de encontro ao conceito que as mulheres ( e também os homens , porque não ¿) devem sempre se manterem belas , o que significa para a nossa cultura mostrar uma aparência sempre jovem .A escritora Susan Sontag num ensaio importante (the double standard of aging) chamou essa necessidade de um humilhante processo de desqualificação gradual : uma temeridade de se ficar menos bela no futuro e sofrer consequências inesperadas.Essa preocupação é artificialmente impregnada pelos conceitos impostos de beleza que sempre buscam uma juventude impossível de ser alcançada.Ser bela funciona como um valor e sua ausência como uma falha.Estrategicamente a indústria da beleza tenta mudar os termos dos objetivos a serem alcançados prometendo ao invés de juventude a possibilidade de ser radiante.Nas entrelinhas ser jovem passa a significar ser natural embora nada seja mais natural do que envelhecer.A redifinição de natural corre paralela ao aumento dos preços dos produtos
A internet se encarrega de ditar as tendências.O Instagram apela para modelos a serem copiados sempre carregando na maquiagem de forma a criar um padrão estético.Existe algo que beira a perversidade quando se vendem esperanças que muito rapidamente se dissipam na inevitabilidade do futuro.Sontag escreveu que o colapso desse tipo de projeto é somente uma questão de tempo.
A maioria de nós quer uma vida longe da morte e do envelhecimento mas não conhece o que seria realmente viver para sempre.A eternidade não é só um longo tempo...é muito mais do que isso.Algo inconcebível.Não importa o quanto iremos viver mas mesmo assim será uma minuscula parte do que ainda estará pela frente.Perseguir a imortalidade ou a juventude eterna é como empreender uma viagem a uma terra prometida na qual nunca estivemos e da qual nunca retornaremos.
Quem persegue o elixir da longa vida precisa pensar não somente no que quer ter mas também no que irá se tornar.

Como a romancista Susan Ertz disse : aqueles que buscam pela imortalidade são os mesmos que não sabem o que fazer numa tarde chuvosa de Domingo

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

perdão


Existem duas formas de perdão : o fácil e o difícil.Quando uma ofensa é leve, quando não há intenção  torna-se fácil perdoar.Muito diferente é a gravidade.O perdão não é espontaneamente gerado pelo coração.

É impossível determinar o tempo para perdoar assim como não sabemos o tempo da dor.É insensato.Mas um tempo que se arrasta cria uma cristalização que só torna o ato mais improvável.

O perdão proforma , que apenas se concede verbalmente ,não sai de dentro.As palavras são representação.É um ato de despedida.O verdadeiro perdão é um novo começo,uma saudação.

Perdoar não justifica comportamentos negativos.Não é um ato de condescendência.Não é a prática da justiça já que o perdão nasce do amor e não do direito.

A justiça não cura.