sábado, 3 de março de 2018

onde morrer




Até o século passado o lugar apropriado para morrer era em casa , rodeado pelos familiares.Com as extensivas transformações sociais causadas pela urbanização e pela difusão dos hospitais associada às grandes evoluções da medicina, a morte foi deixando progressivamente o lar dos doentes.Até 1940 a maioria das pessoas morria em seus lares mas apenas uma década após, 60% já eram hospitalizados.Com a propagação das unidades de terapia intensiva , com as novas tecnologias , com a extensão da expectativa de vida, os hospitais tornaram-se não só um centro de melhores cuidados mas um local onde a vida passou a ser prolongada em direção ao seu destino inevitável.Por força de ser um setor onde se convive com a gravidade e a fragilidade da doença o fim da vida tornou-se mais solitário .

A medicina vem mudando a forma de morrer. O médico vive a experiência da morte mais como um conceito ou processo do que um ponto final.Existe um calvário penoso que alguns pacientes apresentam : quanto mais medicalizada a morte, mais tempo eles  convivem com esse processo.A linha divisória entre vida e morte fica menos definida.Benjamin Gompertz , um matemático britânico , escreveu em 1825 que existem dois direcionadores para a mortalidade.Um extrínseco : acidentes e doenças.Outro intrínseco : ele chamou de as sementes da indisposição.Nós hoje sabemos que este termo pode ser traduzido pelo conhecimento da morte celular.Todo o progresso que conseguimos nos últimos anos foi exatamente em minimizar ou atenuar esta evolução decisiva.Mas os avanços em aumentar os anos de vida de uma pessoa proporcionam um crescimento de doenças crônicas.Assim nos tornamos reféns do tempo que nos aproxima da morte.Vivenciamos mais esta passagem sem estarmos de fato preparados para o desfecho.

Nossos ancestrais nasciam e morriam nas cavernas.Assim como a nascimento , a morte para muitos dos nossos familiares poderia ocorrer na mesma cama.A medicina moderna criou uma situação pesarosa para quem lida com pacientes no final da vida,Nós começamos buscando as soluções para evitar a morte , entendo-a como um inimigo.Porém ,ao longo do tempo,nós presenciamos estados vegetativos  que nos parecem tão desumanos,destituídos de dignidade.O final da vida vem se tornando mais uma negociação do que uma discussão.Neste momento a reflexão é a melhor saída : um equilíbrio entre o que deseja o coração e o que a mente conhece.Thomas Starzl , o primeiro médico a realizar um transplante de fígado , definiu a vida como uma curva em declínio,lentamente nos aproximando da morte

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