Até o século passado o lugar apropriado para morrer era em
casa , rodeado pelos familiares.Com as extensivas transformações sociais
causadas pela urbanização e pela difusão dos hospitais associada às grandes
evoluções da medicina, a morte foi deixando progressivamente o lar dos doentes.Até
1940 a maioria das pessoas morria em seus lares mas apenas uma década após, 60%
já eram hospitalizados.Com a propagação das unidades de terapia intensiva , com
as novas tecnologias , com a extensão da expectativa de vida, os hospitais
tornaram-se não só um centro de melhores cuidados mas um local onde a vida
passou a ser prolongada em direção ao seu destino inevitável.Por força de ser
um setor onde se convive com a gravidade e a fragilidade da doença o fim da vida
tornou-se mais solitário .
A medicina vem mudando a forma de morrer. O médico
vive a experiência da morte mais como um conceito ou processo do que um ponto
final.Existe um calvário penoso que alguns pacientes apresentam : quanto mais
medicalizada a morte, mais tempo eles convivem com esse processo.A linha divisória
entre vida e morte fica menos definida.Benjamin Gompertz , um matemático
britânico , escreveu em 1825 que existem dois direcionadores para a
mortalidade.Um extrínseco : acidentes e doenças.Outro intrínseco : ele chamou
de as sementes da indisposição.Nós hoje sabemos que este termo pode ser
traduzido pelo conhecimento da morte celular.Todo o progresso que conseguimos
nos últimos anos foi exatamente em minimizar ou atenuar esta evolução decisiva.Mas
os avanços em aumentar os anos de vida de uma pessoa proporcionam um
crescimento de doenças crônicas.Assim nos tornamos reféns do tempo que nos
aproxima da morte.Vivenciamos mais esta passagem sem estarmos de fato
preparados para o desfecho.
Nossos ancestrais nasciam e morriam nas cavernas.Assim como a
nascimento , a morte para muitos dos nossos familiares poderia ocorrer na mesma
cama.A medicina moderna criou uma situação pesarosa para quem lida com pacientes
no final da vida,Nós começamos buscando as soluções para evitar a morte ,
entendo-a como um inimigo.Porém ,ao longo do tempo,nós presenciamos estados
vegetativos que nos parecem tão
desumanos,destituídos de dignidade.O final da vida vem se tornando mais uma
negociação do que uma discussão.Neste momento a reflexão é a melhor saída : um
equilíbrio entre o que deseja o coração e o que a mente conhece.Thomas Starzl ,
o primeiro médico a realizar um transplante de fígado , definiu a vida como uma
curva em declínio,lentamente nos aproximando da morte
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