Um estudo bastante extenso,envolvendo mais de 100 mil
pacientes,foi publicado na prestigiosa revista britânica Lancet sobre a
eficácia das drogas antidepressivas.Este foi mais um trabalho que busca
esclarecer os reais benefícios desta classe de medicamentos.Um problema de
credibilidade , de inicio , foi levantado : 78% do que já foi publicado sobre
essa questão tem o apoio de industrias farmacêuticas que , de maneira
óbvia,publicam apenas resultados favoráveis aos seus produtos.A população
estudada incluiu pacientes com depressão moderada a grave e tinha como objetivo
avaliar mudanças na escala de depressão de ,pelo menos , 50% após 8 semanas em
uso de medicação.Porém analisando-se os resultados não foi possível afirmar-se
com certeza que na prática clínica essas drogas seriam significativamente
decisivas na melhora dos pacientes.Os estudos fazem comparações com placebo (um
comprimido de forma idêntica ao medicamento porém sem nenhuma substância
ativa). É muito importante destacar o numero de pacientes que se sentem melhor
nesse grupo.Sabemos que até 40% das pessoas usando o placebo relatam um bom
resultado após o período de 8 semanas.O estudo do Lancet concluiu que se 10
pacientes depressivos tomam medicamentos por dois meses , 5 irão relatar uma
melhora mas em 4 destes não será efeito direto da droga.O mais importante não
foi respondido : qual o efeito das
drogas em casos leves de depressão ¿ quais seus reais efeitos após 8 semanas ¿
quais os efeitos colaterais e sua magnitude ¿ quais os riscos de descontinuar
um tratamento ¿ qual o real beneficio
comparando-se os antidepressivos com terapias não medicamentosas ¿
É oportuno refletir sobre tanto a se conhecer.O que significa
se referir a alguém como doente ¿ Qual a decisão certa a ser tomada quando se
decide medicar ¿Existe uma crucial incerteza em se explicar o comportamento de
algumas pessoas.Podemos constatar que a medicina está perdendo o diagnosticador
para o especialista terapêutico.A sociedade aceita,infelizmente,até por
comodismo,a medicação como solução.Se damos autoridade a uma droga como
“tratamento” ,à pessoa como “paciente” , e ao seu pós tratamento como melhora
acabamos de definir uma resposta terapêutica como um critério diagnóstico
O filósofo Gilbert Ryle , no livro the concept of mind ,
escreveu que é um erro tratar a mente como um objeto.A medicalização que
observamos hoje é uma consequência da transformação das explicações religiosas
para explicações médicas que surgiram após o Iluminismo.O excesso de medicamentos
não é medicina ou ciência. É uma estratégia semântico-social que beneficia a
poucos e prejudica muitos
Nenhum comentário:
Postar um comentário