segunda-feira, 25 de outubro de 2021

incompetência

 texto de Maria Homem , resumido , na Folha de SP de 25 Out 21


O Brasil não está acima de tudo. No momento está abaixo em muitas das escalas que mensuram índices de desenvolvimento humano, econômico, mental.

O Brasil não é o país do futuro, não é um país digno no presente, nunca foi uma grandeza esplêndida no passado.

Deus não é brasileiro. Deus nem existe. Aliás, não é possível saber se deus existe. Nunca foi possível saber e essa é uma das grandes angústias humanas.

O Messias não veio, não está e não virá. O homem inventa deuses há milênios e essa criação tem lhe ajudado a encontrar amparo e a destruir coisas. Em nome de deus, nos unimos e desunimos.

Salvador, Pátria, Salvador da Pátria são conceitos equivocados.

Assim como com deus, em nome da pátria suportamos e trabalhamos. Em nome da pátria, matamos e morremos (ideia cada vez mais fora de moda). Atualmente circulamos imensas somas de capital, bens e pessoas através das fronteiras, legal e ilegalmente. Os mais fortes incidem sobre as bolsas, as cadeias produtivas e a política dos mais fracos. Pátria foi uma útil ficção organizativa moderna, assim como soberania nacional.

Destruir tudo o que está errado para depois reconstruir certo é um projeto delirante. Não funciona —e só revela que não conseguimos resolver problemas. Que sonhamos com um ideal, com um país perfeito, um homem perfeito, uma mulher perfeita e, diante da mediocridade desses objetos, partimos em busca do próximo fetiche.

O presidente é uma farsa. Não sabe pensar, governar, costurar. E não consegue aprender.

O presidente mente. Seus filhos produzem mentiras em alta escala. Um ex-presidente que mente se apropriou de um código aberto para fundar uma rede social. Deu a ela o nome de "Verdade".

Consumimos aplicativos para apagar o que não queremos e melhorar imagens de coisas e pessoas. Photoshops de vídeo, facetunes. A mentira se naturaliza.

O liberalismo seria uma maravilha, mas na prática é um teatro que não atua com sujeitos livres e iguais em competição honesta. O liberalismo econômico é um teatro que serve para legitimar concentrar mais em quem já tem mais.

O presidente e as elites políticas, militares e econômicas cometeram crimes. E cometem cada vez mais crimes para ocultar isso e escapar do devido processo legal.

A legalidade agoniza há quase uma década de forma explícita. E de fato nunca se estabeleceu no país como forma acabada de pacto social.

O poder é inebriante e a democracia está ameaçada ao redor de todo o mundo. Será que o iliberalismo é mais eficaz que a trabalhosa democracia? Livros e pensadores, atônitos, debatem. Enquanto isso caciques vão matando e aprovando leis para se perpetuar no poder.

O presidente e cerca de 70% dos cidadãos são incompetentes. Não têm a competência necessária para realizar as tarefas que lhes cabem. O nível de conhecimento, cultura e consciência da população é sofrível.

A gente morre por incompetência.

A fantasia é um recurso humano primário para suportar o desprazer. A mentira é uma via quando não dispomos de nada melhor. Elas não irão muito longe. Queiramos ou não, a realidade é soberana.

A gente pode falsear, delirar, gargalhar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário