Uma investigação realizada por cientistas sobre as origens
do SARS-CoV-2, concluiu que um vazamento de laboratório (escape viral) era tão
plausível quanto qualquer outra explicação biológica evolutiva. Desde o inicio
da pandemia vivemos com o conceito de que o vírus havia entrado na sociedade
naturalmente a partir de morcegos, e aqueles que sugeriram o contrário foram
considerados teóricos da conspiração.
A história de como esse consenso prematuro veio a dominar o
discurso sobre COVID deve ser examinada, pois revela falhas na maneira como a
sociedade decide o que é verdade.
A maioria das informações sobre o que acontece no mundo é
transmitida ao longo de uma cadeia de instituições antes de chegar a qualquer
pessoa. Surge entre pesquisadores, antes de passar para a imprensa e depois
para as plataformas de tecnologia. À medida que cada uma dessas instituições
processa a informação, ela pode ser distorcida de acordo com seus preconceitos
e interesses . O resultado é que as pessoas adquirem não a verdade, mas uma
distorção de uma distorção de uma distorção, e se os interesses de todas as
três instituições se alinham em uma única história, o efeito cumulativo dessas
distorções irão na mesma direção e rendem uma única miragem convincente.
As duas instituições nas quais a maioria das pessoas confia
para obter a verdade - o mundo científico e o jornalismo convencional (tv,rádio
, jornais etc) – geralmente estão comprometidas por uma série de motivos
pessoais, profissionais e políticos. Mas existe uma terceira instituição no
sistema de manufatura de consenso da sociedade, o último elo da cadeia, com o
maior poder de todos: a mídia social .
A própria estrutura das plataformas tecnológicas as torna
amplificadoras naturais da ciência e da mídia liberal. Orgãos governamentais
como o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) e veículos
de notícias liberais como o New York Times geralmente recebem pontuações de
credibilidade mais altas, o que significa que suas mensagens sempre serão mais
visíveis.
As organizações de verificação de fatos nas quais os
gigantes da mídia social contam para dizer o que é verdade e o que é
desinformação não são compostas de especialistas, mas de leigos que chegam às
suas conclusões a partir do que dizem ser verdade as organizações de “credibilidade”.
Essas mesmas organizações podem pressionar as plataformas de tecnologia para
silenciar a dissidência. Mais pressão vem dos políticos, que regularmente
ameaçam as empresas de tecnologia com regulamentações se elas não fizerem mais
para combater a desinformação.
Exemplos notórios podem ser encontrados ao longo da
história. Ignaz Semmelweis era um médico que aconselhava a lavagem das mãos
como forma de reduzir as mortes de pacientes após a cirurgia. Isso quando o
consenso era que a doença não era causada por germes, mas por desequilíbrios
nos “quatro humores”, e então seu conselho para salvar vidas foi rejeitado e
ele foi ridicularizado,terminando sua vida em um manicômio. O reflexo de
Semmelweis , que leva o seu nome, refere-se à tendência de as pessoas
rejeitarem novas explicações em favor de explicações estabelecidas.
Então, o que pode ser feito para prevenir falsos consensos?
Se não podemos confiar em nossas instituições para fazer as coisas direito,
como podemos distinguir a verdade da teoria da conspiração ¿
A verdade é freqüentemente medida em probabilidades, não em
absolutos; você só pode saber o que é provável, na maioria das vezes. E a
probabilidade de algo ser verdadeiro aumenta em uma direção: em direção à raiz
da cadeia de informações. Quanto menos elos na cadeia, menos oportunidades de
distorção de informações. Quanto mais longe da raiz você estiver, mais suas
crenças se baseiam na fé e serão mais hesitantes. Deve-se, portanto, tentar
seguir as reivindicações até suas raízes, e sempre que não puder, deve-se
abster de conclusões definitivas. Embora seja difícil determinar o que é
verdadeiro ou falso, é relativamente simples determinar o que é e o que não é
uma teoria da conspiração. Estas possuem certas características, nenhuma das
quais em si é uma indicação perfeita, mas todas, tomadas em conjunto, são
indicadores confiáveis.
A primeira característica comum das teorias da conspiração é
que são expressas como certezas, não deixando espaço para dúvidas. A segunda é
que são baseadas em evidências não verificáveis. A terceira característica é
que, ao invés de evidências, elas se sustentam por meio do raciocínio circular,
que normalmente se manifesta nos teóricos da conspiração como um hábito de
considerar ataques à teoria como evidência da conspiração.
Quando for possível identificar esses três componentes em
uma afirmação - certeza, evidência inverificável e raciocínio circular - é
seguro concluir que se está olhando para uma teoria da conspiração.
Podemos nunca saber com certeza se a pandemia veio de um
laboratório ou da selva, mas a história de como decidimos o que era verdade deixa
lições para todos nós. A verdade é um processo de fazer perguntas
constantemente e refinar hipóteses, e o consenso, bem, é um acordo mútuo para
parar.
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