A pandemia nos trouxe mais do que uma cota de tragédias
humanas. Cerca de quatro milhões de pessoas já morreram mas são incontáveis os
humanos que ficaram de luto.
O luto é uma resposta natural e inevitável. Porém, para
muitos, ele foi agravado pelas circunstâncias em que ocorreu: experiências de
solidão no final da vida, impossibilidade do adeus ,funerais isolados e
restritos.
Nos milhões que vivenciam os efeitos da perda é importante
ressaltar que as crianças são particularmente vulneráveis aos efeitos do luto
a longo prazo, com a maioria apresentando transtornos mentais nas primeiras duas décadas
de vida. A pandemia afetou mais de 2,5 bilhões de crianças e jovens em todo o
mundo.Estudos sobre os efeitos em sua saúde mental e bem-estar ainda são
precoces, mas aprender com os desastres de grande escala anteriores pode ajudar
a moldar nossa compreensão e resposta. Os jovens encaram mudanças repentinas
devido ao rompimento das rotinas normais, fechamento de escolas, dificuldades
financeiras e falta de acesso a ajuda profissional.
Em tempos de perda e incerteza, a comunicação mais clara
ajuda a criar resiliência. Mas será que a pandemia melhorou nossa capacidade de
falar sobre a morte? As evidências sugerem que as pessoas agora estão mais à vontade para
falar sobre o luto e mais capazes de pensar sobre sua própria mortalidade. E
isso deveria ser uma verdade também para os médicos, que têm seu próprio luto
para reconhecer e devem abrir espaço para o luto pela morte de pacientes,
colegas, familiares ou amigos. Os médicos são frequentemente encorajados ou
mesmo obrigados a deixar de lado sua própria dor em nome do profissionalismo e
do atendimento eficiente ao paciente. Mas isso pode nos tornar menos autênticos
e mais solitários. Ser aberto sobre nossas próprias experiências de luto,
mostrando “a força da vulnerabilidade”, pode ajudar os outros e também a nós
mesmos a mudar ainda mais as atitudes da sociedade em relação à morte e à
perda.
Estender uma atitude solidária e incondicional às pessoas
enlutadas e a nós mesmos pode ser tudo o que podemos oferecer.E isso pode ser o
suficiente.
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