A pandemia já matou 4,5 milhões de pessoas em todo o mundo –
581 mil só no Brasil –, mas ainda há muita gente capaz de afirmar que ela não
existe..Nos Estados Unidos, onde 99% das mortes atuais por covid-19 são de
pessoas que não se vacinaram – porque negam a eficácia das vacinas – o governo
considera viver outra pandemia dentro da pandemia do coronavírus: a dos
negacionistas.. Mas, afinal, o que essas pessoas tanto negam? E desde quando
elas se tornaram tão numerosas – ou, pelo menos, tão presentes?
Ao longo da história, pessoas e grupos políticos têm negado
de tudo um pouco. E, embora o termo negacionismo tenha se popularizado nos
últimos anos, o fenômeno não é novo, nem nasceu junto com comportamentos da
extrema-direita.Ele remonta ao final da Idade Média e início da Idade Moderna,
quando algumas descobertas científicas ameaçavam os dogmas religiosos. As
autoridades religiosas negavam os avanços científicos e as reflexões feitas
pelos filósofos humanistas.
Os negacionistas se preocupam em reafirmar sua ideologia – e
negar o que pode ser visto como uma ameaça ao seu poder.O que os move, em
geral, é a preocupação em negar tudo aquilo que é inconveniente às suas
ideologias religiosas e sociais.Muitas vezes estão à serviço da politica. No
caso da Igreja, o seu monopólio sobre os fiéis e a sua forma de pensar era um
meio de manutenção do seu poder político e social. Foi essa preocupação que fez
com que a Inquisição romana perseguisse e condenasse Giordano Bruno à morte, no
final do século XVI. O frade, filósofo, teólogo e matemático napolitano foi
acusado de heresia ao questionar uma série de dogmas da Igreja Católica e ainda
defender a existência de vida em outros planetas. A teoria conhecida como
pluralismo cósmico acabou culminando na morte de Giordano Bruno em 1600, numa
fogueira em Roma, com plateia e tudo. Quem não quis ter o mesmo fim, acabou
negando suas próprias descobertas científicas.Foi o caso de Galileu Galilei,
que desenvolveu a teoria do heliocentrismo, indo contra o dogma geocêntrico da
Igreja, que era baseado em interpretações bíblicas. Tais descobertas eram
vistas como uma espécie de afronta a Deus.
A teoria de que o Sol é o centro do universo de Galileu
Galilei se estabeleceu. Mas, outras descobertas científicas ainda são negadas
por alguns grupos, como os que acreditam que a terra é plana, medida há mais de
2 mil anos por Eratóstenes.
É possível falar em negacionismo sempre que algum movimento
político ou algum indivíduo nega o que a ciência já comprovou com base em
pesquisas empíricas ou em reflexões baseadas no método científico. É o que
acontece, por exemplo, quando grupos ou pessoas negam a existência da pandemia,
a eficácia das vacinas, a circunferência da Terra, os efeitos do aquecimento
global ou – um caso clássico de negacionismo – o Holocausto.
A ciência entra na mira dos negacionistas por ser uma forma
de autoridade.
Na era das transformações digitais, onde todo mundo é um
pouco produtor de conteúdo, as coisas tendem a sair do controle. O negacionismo
passa a se confundir, inclusive, com a desinformação.Deixa de ser um boato que
atingia pequenas comunidades. Torna-se lucrativo : alguém monta uma página numa
rede social ou um canal no Youtube para alimentar essas teorias da conspiração,
ganha dinheiro, amplia a audiência etc.
No caso da pandemia, envolve o nosso medo e a nossa vontade
individual. A pessoa vê a notícia ruim e começa a negar, a não aceitar. E aí
ela começa a buscar informações até achar algo que diga o que ela quer. Cria-se
a dúvida (não a dúvida saudável), a insegurança. Vence-se o debate (em questões
que nem deveria haver um) pelo grito, pela retórica e apelo emocional e se
convence as pessoas a fazerem escolhas erradas para sua saúde.
O negacionismo não se firma em um método.As estratégias
negacionistas são muito diversas e apresentam diferentes nuances. Podem se
manifestar tanto na forma de comportamentos quanto de discursos, se baseiam em
generalizações, omissões ou mesmo ataques diretos à ciência e aos historiadores.
Se é pelas redes sociais que os negacionistas ganham espaço,
constroem suas narrativas e convencem outras pessoas, esse parece ser, também,
o melhor ambiente onde cientistas e outros pesquisadores podem combater esse
tipo de atuação. O desafio é valorizar o papel da ciência e se comunicar melhor
com a sociedade.
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