domingo, 5 de setembro de 2021

negacionismo

 

A pandemia já matou 4,5 milhões de pessoas em todo o mundo – 581 mil só no Brasil –, mas ainda há muita gente capaz de afirmar que ela não existe..Nos Estados Unidos, onde 99% das mortes atuais por covid-19 são de pessoas que não se vacinaram – porque negam a eficácia das vacinas – o governo considera viver outra pandemia dentro da pandemia do coronavírus: a dos negacionistas.. Mas, afinal, o que essas pessoas tanto negam? E desde quando elas se tornaram tão numerosas – ou, pelo menos, tão presentes?

Ao longo da história, pessoas e grupos políticos têm negado de tudo um pouco. E, embora o termo negacionismo tenha se popularizado nos últimos anos, o fenômeno não é novo, nem nasceu junto com comportamentos da extrema-direita.Ele remonta ao final da Idade Média e início da Idade Moderna, quando algumas descobertas científicas ameaçavam os dogmas religiosos. As autoridades religiosas negavam os avanços científicos e as reflexões feitas pelos filósofos humanistas.

Os negacionistas se preocupam em reafirmar sua ideologia – e negar o que pode ser visto como uma ameaça ao seu poder.O que os move, em geral, é a preocupação em negar tudo aquilo que é inconveniente às suas ideologias religiosas e sociais.Muitas vezes estão à serviço da politica. No caso da Igreja, o seu monopólio sobre os fiéis e a sua forma de pensar era um meio de manutenção do seu poder político e social. Foi essa preocupação que fez com que a Inquisição romana perseguisse e condenasse Giordano Bruno à morte, no final do século XVI. O frade, filósofo, teólogo e matemático napolitano foi acusado de heresia ao questionar uma série de dogmas da Igreja Católica e ainda defender a existência de vida em outros planetas. A teoria conhecida como pluralismo cósmico acabou culminando na morte de Giordano Bruno em 1600, numa fogueira em Roma, com plateia e tudo. Quem não quis ter o mesmo fim, acabou negando suas próprias descobertas científicas.Foi o caso de Galileu Galilei, que desenvolveu a teoria do heliocentrismo, indo contra o dogma geocêntrico da Igreja, que era baseado em interpretações bíblicas. Tais descobertas eram vistas como uma espécie de afronta a Deus.

A teoria de que o Sol é o centro do universo de Galileu Galilei se estabeleceu. Mas, outras descobertas científicas ainda são negadas por alguns grupos, como os que acreditam que a terra é plana, medida há mais de 2 mil anos por Eratóstenes.

É possível falar em negacionismo sempre que algum movimento político ou algum indivíduo nega o que a ciência já comprovou com base em pesquisas empíricas ou em reflexões baseadas no método científico. É o que acontece, por exemplo, quando grupos ou pessoas negam a existência da pandemia, a eficácia das vacinas, a circunferência da Terra, os efeitos do aquecimento global ou – um caso clássico de negacionismo – o Holocausto.

A ciência entra na mira dos negacionistas por ser uma forma de autoridade.

Na era das transformações digitais, onde todo mundo é um pouco produtor de conteúdo, as coisas tendem a sair do controle. O negacionismo passa a se confundir, inclusive, com a desinformação.Deixa de ser um boato que atingia pequenas comunidades. Torna-se lucrativo : alguém monta uma página numa rede social ou um canal no Youtube para alimentar essas teorias da conspiração, ganha dinheiro, amplia a audiência etc.

No caso da pandemia, envolve o nosso medo e a nossa vontade individual. A pessoa vê a notícia ruim e começa a negar, a não aceitar. E aí ela começa a buscar informações até achar algo que diga o que ela quer. Cria-se a dúvida (não a dúvida saudável), a insegurança. Vence-se o debate (em questões que nem deveria haver um) pelo grito, pela retórica e apelo emocional e se convence as pessoas a fazerem escolhas erradas para sua saúde.

O negacionismo não se firma em um método.As estratégias negacionistas são muito diversas e apresentam diferentes nuances. Podem se manifestar tanto na forma de comportamentos quanto de discursos, se baseiam em generalizações, omissões ou mesmo ataques diretos à ciência e aos historiadores.

Se é pelas redes sociais que os negacionistas ganham espaço, constroem suas narrativas e convencem outras pessoas, esse parece ser, também, o melhor ambiente onde cientistas e outros pesquisadores podem combater esse tipo de atuação. O desafio é valorizar o papel da ciência e se comunicar melhor com a sociedade.

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