Compreender as tendências na evolução do SARS-CoV-2 é
fundamental para controlar a pandemia de COVID-19. Um estudo fundamental acaba
de ser publicado no jornal PNAS onde os pesquisadores analisaram mais de 300.000
sequências de genoma das variantes do SARS-CoV-2 identificadas até janeiro de
2021.
Os resultados mostram que a evolução contínua do vírus
durante a pandemia é caracterizada principalmente por um processo chamado de “seleção
purificadora” : o domínio de ligação ao receptor da proteína spike e a região
da proteína do nucleocapsídeo associada aos sinais de localização nuclear (NLS)
são ” enriquecidos “ com substituições de aminoácidos selecionadas
positivamente. Essas substituições formam uma rede fortemente conectada de interações
e são como assinaturas das variantes do SARS-CoV-2.
A diversidade de vírus dentro de cada região geográfica tem
crescido continuamente durante toda a pandemia . A análise das similaridades
filogenéticas entre as diversas regiões revela quatro períodos distintos no
surgimento de mutações importantes. O período inicial de rápida diversificação
terminou em fevereiro de 2020 e foi
seguido por um grande evento de disseminação global com a mutação D614G na
proteína spike . As variantes associadas alcançou proeminência global de março
a julho, durante um período de estagnação em termos de diversidade
inter-regional.A partir de julho de 2020, surgem múltiplas mutações, algumas
das quais já foi demonstrado que permitem a evasão de anticorpos.
Altas taxas de mutação de vírus de RNA permitem a adaptação
aos hospedeiros em um ritmo surpreendente. No entanto, a conservação da sequência básica
indica que a seleção purificadora é a principal força que molda
a evolução das populações
do SARS Cov2, com a seleção positiva afetando apenas subconjuntos relativamente
pequenos de locais diretamente envolvidos na coevolução vírus-hospedeiro. O
destino de um novo vírus zoonótico
é, em grande parte, determinado pelo
combate promovido pela intervenção de saúde
pública. Períodos intermitentes de seleção positiva podem resultar em evasão
imunológica duradoura, levando a oscilações no tamanho da população suscetível
e, em última análise, um padrão regular de epidemias repetidas, como já foi
amplamente demonstrado para o vírus influenza.
Durante a atual pandemia de coronavírus (COVID-19), a
compreensão do grau e da dinâmica da diversificação de locais sujeitos à
seleção positiva são essenciais para estabelecer um plano estratégico de
respostas, de orientações sobre isolamento, quarentena e ampla e rápida
vacinação.
Estamos tendo a oportunidade de observar a evolução do vírus
durante uma pandemia. Este é um feito inédito na história humana. Apesar da
redução nas viagens globais, a evolução do SARS-Cov-2 é parcialmente moldada
por fatores globalizantes. Existem fortes evidências de diversificação contínua
de vírus dentro de regiões geográficas e “especialização”, ou seja, formação de
variantes estáveis, divergentes e específicas da região. Essa diversificação
adaptativa em andamento pode prolongar substancialmente a pandemia e a campanha
de vacinação, na qual vacinas específicas para variantes provavelmente serão
necessárias.
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