Nesse mundo do excesso de informações, não existem ideias,
assim como não existem no tremendo fluxo de dados da internet, porque as ideias
sempre foram perigosas. São elas que podem dar sentido à realidade e às vidas,
são bússolas para desnudar as opressões.
Em uma entrevista recente, o filósofo alemão nascido na
Coreia do Sul, Byung-Chul Han, observou: “Estamos muito bem informados, mas de
alguma forma não podemos nos orientar”. Seus argumentos sobre as consequências
sociais do excesso de informações que sofremos já haviam sido apontados em seu
livro Infocracia, publicado um ano atrás.
Han atribui boa parte dos problemas que sofremos como
sociedade à informatização. Diz que o ego narcisista voltado para dentro “é a
causa da desintegração social”, já que tudo o que une e conecta está
desaparecendo, neutralizando a possibilidade de nos considerarmos uma única
sociedade. A conclusão é que não há mais narrativas comuns que unam as pessoas.
A verdade é diferenciada da informação. A segunda é
centrífuga e destrói a coesão social, ao passo que a narrativa verdadeira a
mantém unida. A verdade ilumina o mundo, ao passo que a informação vive da
atração da surpresa porque gera uma sucessão de “momentos fugazes” que têm o
poder de obscurecer a realidade e deformar, em vez de informar.
Pode-se dizer que isso não é novo, mas o resultado de meio
século de crescente posicionamento das tecnologias da informação no centro de
nossas vidas. O físico austríaco Fritjof Capra complementa o filósofo alemão,
conforme explica nesta frase: “A informação é apresentada como a base do
pensamento, enquanto que, na realidade, a mente humana pensa com ideias, não
com informações”
Theodore Roszak, em “ O culto da informação: tratado sobre
alta tecnologia, inteligência artificial e a verdadeira arte de pensar”,
publicado em 1986, traz uma conclusão importante: “As ideias são padrões
integradores que não derivam da informação, mas da experiência”.
Por isso, todo o empenho do sistema com nossos jovens
consiste em obstruir suas experiências de vida e submetê-los a um bombardeio
constante de informações que não contribuem para nada, mas criam uma gigantesca
nuvem de confusão. O consumismo, essa mutação antropológica, é sua principal
janela para o mundo, exceto, é claro, a tela de seus aparelhos informáticos.
Sem ideias e sem experiência vital, a humanidade naufraga
rumo ao abismo, justamente no momento mais crítico que se tem memória, ao menos
desde a Peste Negra (1347-1353), origem remota do capitalismo. Agoniar-nos com
informações e bloquear as ideias é lucro para o sistema, por isso temos que
pensar o uso que os de cima fazem da Internet como uma grande política
contrainsurgente. Em contrapartida, os progressismos usam e abusam da
comunicação para oferecer uma narrativa de suas supostas virtudes, nunca para
dialogar em pé de igualdade com as pessoas comuns. Reproduzem a relação
sistêmica sujeito-objeto que dizem combater, colocando seus próprios eleitores
na condição de receptores passivos de seus discursos.
Para proteger a integridade de suas comunidades, os Guarani
Mbya de muitas aldeias regulam os horários de conexão à internet, para que seus
filhos e filhas não fiquem indefesos diante da avalanche de dados que não podem
ordenar, nem hierarquizar. Desse modo, recusam-se a se expor ao poder
desorganizador das redes sociais.
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