terça-feira, 30 de novembro de 2021

a mais triste banalização da pandemia

 

Uma entre tantas complacências diante da pandemia foi “aceitar” que a covid afeta o idoso desproporcionalmente. Mas quase todas as outras doenças também o fazem. Este é um fato da vida : são os idosos que morrem desproporcionalmente por todas as causas .

Se avaliarmos a mortalidade na população, iremos observar que a Covid reduz a expectativa de vida em todas as faixas etárias, um efeito que começa antes da chamada meia-idade.

Porém, se tivéssemos que calcular o efeito na expectativa de vida, a consequência é generalizada: uma pessoa de 30 anos perde mais de 50 anos de vida, uma pessoa de 80 anos perde cerca de uma década, etc.

Estamos diante , portanto , de uma inconsistência. Se Covid é um problema da pessoa idosa, e estamos “normalizando” esse fato, vamos tratar os pacientes idosos da cardiologia, da oncologia,da urologia e a maior parte da medicina interna da mesma maneira ?.

O “problema da pessoa idosa” relacionado à Covid torna-se efetivamente um argumento de eugenia incondicional ( senicídio / geronticídio). A principal característica de uma sociedade civilizada é proteger os fracos: os antigos mediterrâneos davam um status superior aos idosos (senadores). O mesmo acontece com quase todas as sociedades que não estão em decadência.

Infelizmente estamos perdendo o senso da forma como a sociedade é construída . Ela se dá por meio de um raciocínio dinâmico e não estático. Uma pessoa de 30 anos não vai ser congelada em uma juventude eterna e as sociedades (civilizadas) foram organizadas em torno de compromissos intergeracionais.Isso significa que deveríamos tratar os atuais idosos da maneira como gostaríamos de ser tratados quando envelhecermos. Pois mesmo os psicopatas um dia ficarão mais velhos.

Não se trata de um único evento (esta pandemia), mas de todas as pandemias futuras, incluindo aquela que acontecerá quando cada um de nós for mais velho.Ao banalizar a morte de  idosos reduzimos a nossa própria expectativa de vida.

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