terça-feira, 14 de novembro de 2017

minha coluna no Jornal de Santa Catarina 14/11/17

Uma medicina distante do paciente



Classicamente , a medicina é aprendida à beira do leito do paciente.Seja na enfermaria , nas UTIs , no pronto atendimento , sempre foi normal observarmos os grandes “rounds” , onde os mestres e os alunos discutiam as complexidades das doenças.Hoje , estamos observando a companhia das telas dos computadores a substituírem aquele fundamental preceito da prática médica : estar onde o paciente estiver.
O pensamento clínico tem se tornado mais abrangente e vasto.Excede a capacidade da mente humana.Os computadores não saõ um problema mas utilizá-los de modo racional requer que sua ajuda não seja exclusiva.Cada paciente tem se tornado um grande banco de dados com informações preciosas.É preciso que o modo de pensar a medicina se ajuste a esta enorme mudança que já transcorre nos hospitais.O conhecimento atinge proporções que só permitem que novos desafios surjam.Antigos diagnósticos agora requerem numerosas decisões e não é surpreendente que elas possam estar erradas.Exames solicitados sem critério vêm negativos.Excesso de medicalização .Internações desnecessárias etc.Esse confronto se soma à distância do paciente.Perde-se muito tempo no preenchimento de dados , de avaliação de exames complementares e vamos nos esquecendo das respostas que só se obtêm num exame físico detalhado.
A base de nosso desafio é a complexidade e as soluções se mesclam a tanta informação.De modo progressivo se torna mais dificil identificar qual é o cuidado imprescindível.Quais as reais prioridades num atendimento humanizado.Exceder esses limites pode resultar num maior cuidado mas não em um melhor cuidado
A ciência médica deve ser um comprometimento a um modo sistemático de pensar,uma fidelidade na construção do conhecimento através da menor distância com o ser humano.A explicação para um diagnóstico deve calcar-se num conjunto de dados que ,muitas vezes, pode ser obtido apenas com uma longa conversa.A intuição também conta e ela se solidifica na experiência e na geração de hipóteses que precisam ser testadas.Edwin Hubble , influente astrônomo, disse que um cientista deve ter um ceticismo saudável , um julgamento crítico e uma imaginação disciplinada.
Dessa maneira podemos chegar ao diagnóstico por sucessivas aproximações.Nossa tarefa é de conjugar várias tarefas à beira do leito.
Nesse futuro já tão próximo da inteligência artificial onde tanto conhecimento será armazenado de nada nos servirá o ambiente informatizado se não soubermos identificar a identidade de cada um que cuidamos.Podemos estar criando uma pseudociência , uma ciência sem substância.
Não é o quanto nós sabemos mas como sabemos o que importa.É preciso sempre lembrar que assim como os nossos pacientes buscamos simples respostas .

É fácil tomar perfeitas decisões com perfeitas informações.A medicina nos desafia a tomar perfeitas decisões com imperfeitas informações.

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