sexta-feira, 24 de novembro de 2017

a morte de eros


Quando o amor é profanado e transformado em sexualidade o traço universal do eros se retira dele.
Segundo Platão o eros dirige a alma.Uma sociedade de desempenho substitui o eros por sexualidade obsessiva e pornografia.
O amor é um palco de dois.Interrompe a perspectiva de um e faz surgir um novo mundo a partir do outro.O amor caracteriza uma experiência e encontro.Interrompe o igual em vantagem do outro

A morte do eros fortalece o narcisismo.Ele habita o palco de um.Aniquila a distância.

A morte do eros finda a possibilidade de conclusão.A vida é uma plena conclusão.Longa,lenta,precedida por um tempo de demorar-se junto ao outro
O amor é uma conclusão absoluta.

a expectativa


A imaginação repleta de informações não sólidas leva à supervalorização de alguém ou a idealizá-lo.
A informação está ancorada num ajuntamento de dados que nos chegam a todo momento ao invés de ser totalitária.
A imaginação tem elevado os anseios dos homens e mulheres em relação às propriedades exigidas num parceiro.Por isso a crescente decepção , uma escrava da imaginação.
Sempre se geram novas necessidades e desejos através da informação imaginativa

A crescente desilusão na sociedade de hoje não é o aumento da fantasia mas sim a alta expectativa.
A quantia de baixa qualidade da informação desqualifica a expectativa.A sociedade do desempenho se expõe em demasia e se frustra.

Possuídos pelas imagens hipervisíveis não se consegue mais fechar os olhos , não mais permite a visão dos limites.Junto com a ausência destes desaparece a fantasia sobre o outro.

Sem que se perceba estamos o criando o inferno do igual

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

a impossibilidade da felicidade pelo desejo


O ser humano é um contínuo insatisfeito que pula de desejo em desejo.Nenhuma satisfação de desejo pode oferecer um contentamento durável e imutável.Estar subordinado ao desejo é viver uma vida de oscilação : do sofrimento ao tédio
Schopenhauer observa que quando nossos desejos estão satisfeitos,mesmo com moderação,nos tornamos indiferentes.A calma da satisfação nos aprofunda na angustia de um cotidiano em branco e preto.A felicidade , para o filósofo , é um fim inacessível e só pode ser experimentada,de modo incompleto , apenas numa atividade criadora.Com a experiência paramos de procurar a felicidade e o prazer e nos preocupamos em escapar , tanto quanto for possível , à dor e ao sofrimento

Vários pensadores modernos definem a felicidade como um instante de alívio entre dois momentos de tristeza.Uma satisfação repentina sob a forma de um fenômeno episódico.
A sociedade do desempenho mantém-se em conformidade com nosso ego : que o mundo se dobre aos nossos desejos.Daí seu carater ilusório , frágil
Quem vive alheio a esta sociedade entende que a sabedoria nos conduz à capacidade de abandonar essa necessidade do desejo para nos fazer desejar o que é : a vida como ela realmente funciona.

sábado, 18 de novembro de 2017

Sobre os erros



Benjamin Franklin escreveu que talvez os erros na história da humanidade sejam de mais valor do que as próprias descobertas.A verdade, para ele , é uniforme e justa.Existe constantemente e requer apenas uma atitude passiva da alma para ser encontrada.Mas o erro é muito mais diversificado.Ele não tem realidade.Está, na maioria das vezes ,  na mente que o inventa.

Assim como as experiências prazerosas a certeza de estar certo não está ao nosso lado sempre.Nossa indiscriminada satisfação de estarmos certos é fortalecida a todo momento ao vivermos o nosso dia a dia de forma a reiterarmos isso com frequência.Esses momentos representam momentos de pequenas alegrias.Afirmam nossa competência , nossas verdades , nossa superioridade animal.Nos mantém vivos.

Individualmente e coletivamente , nossa existência depende de nossa habilidade para atingirmos precisas conclusões sobre o mundo ao nosso redor.A experiência de estar certo é fundamental para a sobrevida

Em nossa imaginação o erro é associado á vergonha e estupidez (mas também ignorância , indolência etc).De todas as coisas erradas a idéia do erro está no topo da lista de problemas.Mas longe de ser um sinal de inferioridade intelectual a capacidade de errar é crucial para a nossa cognição.Ela nos é intrínseca.É essencial para nosso aprendizado e mudança.Graças aos erros nós podemos rever nosso entendimento pessoal e corrigirmos nossas idéias.

Errar é uma janela para o mundo vista pelas nossas mentes imaginativas . nossas almas extravagantes.
São os erros e não as certezas que ensinam quem nós realmente somos

terça-feira, 14 de novembro de 2017

minha coluna no Jornal de Santa Catarina 14/11/17

Uma medicina distante do paciente



Classicamente , a medicina é aprendida à beira do leito do paciente.Seja na enfermaria , nas UTIs , no pronto atendimento , sempre foi normal observarmos os grandes “rounds” , onde os mestres e os alunos discutiam as complexidades das doenças.Hoje , estamos observando a companhia das telas dos computadores a substituírem aquele fundamental preceito da prática médica : estar onde o paciente estiver.
O pensamento clínico tem se tornado mais abrangente e vasto.Excede a capacidade da mente humana.Os computadores não saõ um problema mas utilizá-los de modo racional requer que sua ajuda não seja exclusiva.Cada paciente tem se tornado um grande banco de dados com informações preciosas.É preciso que o modo de pensar a medicina se ajuste a esta enorme mudança que já transcorre nos hospitais.O conhecimento atinge proporções que só permitem que novos desafios surjam.Antigos diagnósticos agora requerem numerosas decisões e não é surpreendente que elas possam estar erradas.Exames solicitados sem critério vêm negativos.Excesso de medicalização .Internações desnecessárias etc.Esse confronto se soma à distância do paciente.Perde-se muito tempo no preenchimento de dados , de avaliação de exames complementares e vamos nos esquecendo das respostas que só se obtêm num exame físico detalhado.
A base de nosso desafio é a complexidade e as soluções se mesclam a tanta informação.De modo progressivo se torna mais dificil identificar qual é o cuidado imprescindível.Quais as reais prioridades num atendimento humanizado.Exceder esses limites pode resultar num maior cuidado mas não em um melhor cuidado
A ciência médica deve ser um comprometimento a um modo sistemático de pensar,uma fidelidade na construção do conhecimento através da menor distância com o ser humano.A explicação para um diagnóstico deve calcar-se num conjunto de dados que ,muitas vezes, pode ser obtido apenas com uma longa conversa.A intuição também conta e ela se solidifica na experiência e na geração de hipóteses que precisam ser testadas.Edwin Hubble , influente astrônomo, disse que um cientista deve ter um ceticismo saudável , um julgamento crítico e uma imaginação disciplinada.
Dessa maneira podemos chegar ao diagnóstico por sucessivas aproximações.Nossa tarefa é de conjugar várias tarefas à beira do leito.
Nesse futuro já tão próximo da inteligência artificial onde tanto conhecimento será armazenado de nada nos servirá o ambiente informatizado se não soubermos identificar a identidade de cada um que cuidamos.Podemos estar criando uma pseudociência , uma ciência sem substância.
Não é o quanto nós sabemos mas como sabemos o que importa.É preciso sempre lembrar que assim como os nossos pacientes buscamos simples respostas .

É fácil tomar perfeitas decisões com perfeitas informações.A medicina nos desafia a tomar perfeitas decisões com imperfeitas informações.

a busca insensata da felicidade



Existe um imperativo da felicidade nos nossos dias atuais.
O direito à felicidade torna-se um dever.Estamos condenados a sermos felizes e se não o conseguimos acabamos por nos culpar.
É provável que sejamos a primeira sociedade na história humana a nos tornarmos infelizes por não sermos felizes

A obsessão que nos assola é um obstáculo à felicidade.Somos bombardeados por falsas promessas ligadas ao consumo,à aparência física,ao sucesso social.Quem se deixa levar a isso passará de desejos realizados a multiplos novos desejos insatisfeitos.Uma vida de frustração em frustração.

A infelicidade vem do fato de se ter buscado objetivos muito elevados,que jamais,provavelmente, serão alcançados e começando exatamente por querer ser feliz.Surge o cansaço de si próprio.Surgem as numerosas formas de depressão : o alto preço pago pelo duplo imperativo de autonomia e de realização pessoal.

A depressão moderna é muitas vezes uma doença da responsabilidade.Antes o homem vivia os dilemas da culpa,neurótico pelas tentativas de se libertar.Hoje vive o dilema das necessidades sociais.O compromisso que assume pelo imperativo de mostrar-se feliz

É possível ser feliz sem nunca perguntar pela felicidade .E , certamente , essa pergunta pode até complicar a existência.
A arte da felicidade consiste em não estabelecer objetivos elevados demais,inatingíveis,massacrantes.
O segredo é graduar as ações.Seguir por etapas conhecendo e superando os fracassos e os acasos da vida.
Montaigne já explicou : devemos deixar a atenção se mover sem esforço,saber agir e não agir.

Para a nossa sociedade do desempenho vale uma vida que não seja de expectativas outras que não as nossas.

sábado, 11 de novembro de 2017

Alzheimer e estilo de vida



Estima-se que existam aproximadamente 40 milhões de pessoas com demência no mundo.Porém esta cifra se duplicará até 2030, triplicando até 2050. Os especialistas concordam que alguns aspectos do estilo de vida aumentam a possibilidade do desenvolvimento de Alzheimer ou outra forma de demência.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) a demência consiste em uma doença gravemente incapacitante e costuma ser devastadora para seus cuidadores e familiares. O Alzheimer é o tipo de demência com maior prevalência.

Devido a esta realidade,  desde 1994, o dia  21 de setembro comemora o Dia Mundial do Alzheimer e desde 2012 se comemora todo setembro como o Mês Mundial do Alzheimer a fim de aprofundar a conscientização e ampliar as atividades relacionadas a apresentar informações para ao reconhecimento da demência e a luta contra o estigma que carrega.
 Na edição 2017, o foco da campanha mundial está no conceito de que "Um diagnóstico precoce significa viver melhor por mais tempo"; com ênfase na detecção de sintomas precoces, promovendo a oportuna consulta e eventual diagnóstico e tratamento adequados.

No último Congresso da Associação Internacional de Alzheimer realizado em Londres em Julho passado, a The Lancet Commission on Dementia Prevention anunciou que alguns aspectos do estilo de vida aumentam a possibilidade de desenvolver a Doença de Alzheimer ou outra demência e o controle de certos fatores de risco poderia ter o potencial de atrasar ou proteger um terço dos casos.

Os 7 fatores de risco são: sedentarismo, tabagismo, hipertensão, obesidade na vida adulta, diabetes, depressão e baixo nível de instrução. Em todos os casos, se trata de fatores modificáveis, que mediante diferentes iniciativas poderiam diminuir o risco de Alzheimer.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Para quem me acompanha no blog....Sabado , dia 04 de Novembro , a partir das 21 horas estarei com minha banda The Ace Rock Company tocando no Enter Burger , rua São Paulo próximo ao Giassi

vejo vocês lá

arrependimento



O que queremos da vida , do amor , dos medos , dos nossos esforços ?
Só saberemos depois...dos fatos já concretizados.
E do que arrepender-se ?

Muitas pessoas trazem o arrependimento à tona de modo rápido.E de um modo em geral eles são baseados em más escolhas.Não que só coisas ruins nos aconteçam ou que a vida nos jogue o que há de pior em nosso caminho : o arrependimento é uma profunda tristeza sobre algo que fizemos , ou algo em que falhamos.
Pode ser uma raiva contida por ter tido a informação suficiente para uma decisão correta mas ter tomado a errada.Ou não ter exposto algumas verdades a alguém que morreu.

A verdade é que nós todos tentamos tomar a decisão adequada usando as informações disponíveis num determinado momento e depois nos vemos numa culpabilidade sem fim.
No decorrer de uma vida inúmeras vezes ouvimos conselhos para "seguirmos os nossos sonhos".E esta é uma crucial lição : iremos fatalmente nos arrepender de decisões tomadas de modo emocional.
Fazer uma tatuagem , por exemplo.Escolher uma faculdade.E até decidir uma vida baseada no amor : uma paixão que se dissolve , o fim de um relacionamento que " tinha tudo para dar certo".

A verdade é que onde há vida , existe um tempo para se arrepender.E o pior inimigo que podemos criar é nosso próprio medo.O racional , se puder ser priorizado , nos causará menos erros.Mas uma vida sem riscos é enfadonha e é pior arrepender-se por não ter tentado.Ser confidente : as palavras precisas para que e quem for preciso .Este é o segredo