É difícil definir a modernidade.
Pois nós estamos vivendo nesse momento o que se chama “tempo
moderno”.
O iluminismo diz que o tempo moderno é “tudo isso, a
filosofia como problematização de uma atualidade e como interrogação para o
filósofo dessa atualidade da qual faz parte e em relação à qual tem que se
situar”.
Duas noções são importantes para entender o moderno: a idéia
de progresso, que faz com que o novo seja considerado melhor ou mais avançado
do que o antigo; e a valorização do individuo, ou da subjetividade como lugar
da certeza e da verdade, e origem dos valores, em oposição à tradição isto é,
ao saber adquirido, às instituições, à autoridade externa.
Com a inauguração dos tempos modernos, o homem se torna o
centro, a medida do conhecimento em que tudo está estritamente ligada à razão.
Daí a importância da compreensão da modernidade para, então, se compreender como
foi descoberta a idéia de sujeito, de agente dominador.
A modernidade é a época em que a alma se retira do mundo das
coisas e recolhe-se no mundo dos homens, bem como a época em que os homens se acreditam
suficientemente fortes e poderosos, qual um novo Prometeu.
Com todas essas novidades, o mundo parecia está desordenado,
fragmentado e sem referência ou centro, era preciso achar alguma orientação ou
método para centralizar o mundo. É aqui que a razão entra como aquela que vai
restituir a unidade perdida, pois ela está para além das culturas e é universal.
A razão é de fato, o elemento comum a todos os seres humanos e, por isso,
assume a condição de fundamento a partir do qual o mundo deve ser organizado. É
ela quem deve, a partir de agora, dar unidade e sentido a todas as esferas que
compõem a existência humana. Tudo quanto pretenda ter legitimidade para existir
necessita, pois, de submeter-se ao crivo da Razão.
Ela, a razão, desmonta antigas crenças e reconstrói o novo
edifício do saber.
O Movimento Iluminista, grande propagador do projeto moderno,
depositou uma confiança cega e ilimitada na razão a ponto de o século XVII ser
denominado o “Século das Luzes”. A razão teria chegado a um tal estágio de desenvolvimento
que ela seria capaz de dissipar as trevas da ignorância que obscurecem o
espírito humano .
Kant, ao tentar dar uma resposta ao o que é o esclarecimento
define-o como uma saída do homem para a sua maioridade.
A ideologia moderna alicerça toda forma de conhecimento num
modelo natural sem relação a crenças religiosas, o que deve valer é o que se
pode medir “e o individuo só está submetido às leis naturais”. O pensamento
científico deve ser totalmente transparente e a sociedade deve refletir essa
transparência sendo organizada pela razão.
O homem passa a interessar-se não tanto por aquilo que já é,
mas por aquilo que ainda poderá ser. A Modernidade foi construindo assim um
personagem independente, livre das pressões tradicionais.
Porém evoluímos com um mau uso da razão pelo homem, não
legitimando a promessa iluminista. “A sociologia, por exemplo, que prometia
conseguir o equilíbrio nas relações sociais, presenciou contraditoriamente o
caos contemporâneo produzido pelo perverso e desumano uso da razão” . Habermas
em o discurso filosófico sobre a modernidade, faz uma reflexão de uma razão que
não busque conhecimento somente da relação sujeito objeto ou que ela não seja
fechada em si mesma. Ele busca uma filosofia que seja pautada na
comunicabilidade dos sujeitos frente aos novos paradigmas da modernidade.
Quais as conseqüências de uma razão que subjuga tudo em
volta de si? Esse sujeito, guiado por um modelo de absolutização do racional
presenciou inúmeras ações destruidoras: Confecção de bombas atômicas, massacres
totalitários, as guerras mundiais dentre outros atos destruidores, tudo isso
levou o sujeito a perder confiança na razão, entrando de forma descontrolada no
universo das emoções.
Nietzsche já fazia a crítica à modernidade, o pensamento
tradicional desde Aristóteles era totalizante e coerente com a realidade, a
verdade era procurada em um sistema lógico e formal. Com Nietzsche há uma desconstrução
do modo de pensar tradicional. Desfazendo a idéia de um pensamento sistemático,
ele fundamenta sua linguagem filosófica na vontade de poder e a própria verdade
é colocada em questão. Agora a verdade não está mais pautada na razão, (que se
engana) mas na vontade.
Pós-Modernidade e sujeito
O termo "pós-modernismo" teve sua origem na
Espanhana década de 1930. Mas foi o filósofo francês Jean-François Lyotard, com
a publicação "A Condição Pós-Moderna" (1979), que expandiu do uso do
conceito. Logo no inicio do primeiro capitulo dessa obra Lyotard usa o termo idade
pós-moderna se referindo ao objeto de estudo em questão:
Em Lipovetsky o conceito é encarado como continuação do
processo moderno e elevação exagerada de seus ideais,daí ele preferir usar o
termo hiper-modernidade para se referir a esse processo. O termo “hiper” faz
menção a uma exacerbação dos valores da modernidade, é a cultura do excesso
determinada e marcada pelo efêmero em que o sujeito em ritmo acelerado busca a
satisfação dos seus desejos.
A sociedade contemporânea é a mais alta fase da modernidade.
É uma sociedade do excesso e do vazio que dão autonomia e produz novas formas
de liberdade causando “novos problemas, novas angústias e novas expectativas”.
Em “A Era do Vazio” o filósofo chama a atenção para a fragmentação da sociedade
e seus costumes, o consumo, o hedonismo, o individualismo e a urgência de um
novo paradigma social. Com o enfraquecimento de todos os setores da sociedade
e,principalmente, do indivíduo contemporâneo emerge um modo“inédito” de
vivência, “numa ruptura com o que foi instituído a partir dos séculos XVII e
XVIII”.
Zigmund Bauman, outro filósofo contemporâneo, não utiliza o
termo pós-modernidade, mas “Modernidade Líquida”. Em que os preceitos duros,
sólidos e sedimentados da modernidade derreteram-se. Ele também concorda com
Lipovetsky quando afirma que “a sociedade de consumo não é nada além de uma
sociedade do excesso e da fartura”
Essa época, principalmente o século XX, é um ambiente de
muitos contrastes, onde acontecimentos desastrosos dão a idéia de uma deserção
social nunca ocorrida na História: o desenraizamento sistemático das populações
rurais, depois urbanas, os genocídios e etnocídios, Hiroshima devastada,as
bombas jogadas sobre o Vietnã e a guerra ecológica com produtos herbicidas, a
escalada do estoque mundial de armas nucleares, as figuras do niilismo europeu....com
certeza a lista se alongaria desmesuradamente se quiséssemos inventar todos os
nomes do deserto.
Numa incessante busca do seu bem-estar e uma supervalorização
do EU, o individuo moderno torna-se frágil e vulnerável á medida que se fecha
para o outro e imerge dentro de si. Esse individualismo estimulado pelo
consumismo foi esvaziando o sujeito a tal ponto que ele já não tem mais forças
para lutar pelos ideais comunitários e transfere a responsabilidade política
para os partidos por não ter tempo disponível para a “res publica” estando
envolvido nos seus próprios negócios, em seu mundo, cuidando dos seus interesses.
Todas as instituições, organizações e todos os valores estão
sendo esvaziados de sua substância. O saber, o poder,o trabalho, o exército, a
família, a Igreja, já não estão em funcionamento como princípios absolutos e
intangíveis. Há uma descrença geral em todos eles.
Entretanto, o sistema funciona e as instituições se desenvolvem
multiplicando-se assustadoramente, a diferença é que agora num ritmo livre e
leve, no vazio e sem sentido. É preciso saber viver ou sobreviver nos “espaços
desativados”. Uma onda de apatia invadiu a sociedade que acompanhou a morte das
ideologias e “a morte de Deus” prevista por Nietzsche.
Nietzsche nos carrega de culpa diante da depreciação mórbida
dos valores e anuncia o niilismo europeu. Porém, Lipovetsky vê um deserto
pós-moderno todo feito de indiferença e em que cada vez mais se afasta do
niilismo. Não estando sob pressão, livre das correntes tradicionais e guiado
pela lógica hedonista, a pós-modernidade forjou um indivíduo “narcisista”
voltado para si mesmo em busca de satisfação e realização pessoal. Na verdade,
o que caracteriza uma sociedade narcisista é a vivência do presente e não mais
atrelada ao passado e ao futuro.
O sentido histórico já não faz mais sentido, as pessoas não
se prendem mais às instituições e desacreditam em seus valores. É instaurado
por assim dizer um narcisismo coletivo. A cultura narcisista é a celebração da
aparência física, o triunfo do espelho e o culto da própria imagem
Narciso segue um
caminho incerto, mas consegue caminhar, atravessando sozinho o deserto, levando
a si mesmo sem qualquer apoio transcendental, o homem de hoje é definido pela
vulnerabilidade. O que Lipovetsky quer demonstrar a respeito do individuo é que
a deserção da “res pública” foi limpando o terreno para a ascensão do sujeito
puro, em busca de si mesmo.
Obcecado por ele mesmo pode desmoronar a qualquer momento
por não se apoiar em nenhuma força exterior. “O homem descontraído está
desarmado” .
Agora, os problemas da vida pessoal ganham proporções desmensuradas,
a grade psicológica e psicanalítica tenta apresentar soluções para acabar com
um devastador solipsismo. A solidão não é apenas uma excepcional idade de alguns
“românticos”, ela tomou proporções populares.
Vemos o surgimento do homo “psicologicus”, ansioso por
identidade e bem-estar.