domingo, 17 de março de 2024

modernidade e pós modernidade


 

É difícil definir a modernidade.

Pois nós estamos vivendo nesse momento o que se chama “tempo moderno”.

O iluminismo diz que o tempo moderno é “tudo isso, a filosofia como problematização de uma atualidade e como interrogação para o filósofo dessa atualidade da qual faz parte e em relação à qual tem que se situar”.

Duas noções são importantes para entender o moderno: a idéia de progresso, que faz com que o novo seja considerado melhor ou mais avançado do que o antigo; e a valorização do individuo, ou da subjetividade como lugar da certeza e da verdade, e origem dos valores, em oposição à tradição isto é, ao saber adquirido, às instituições, à autoridade externa.

Com a inauguração dos tempos modernos, o homem se torna o centro, a medida do conhecimento em que tudo está estritamente ligada à razão. Daí a importância da compreensão da modernidade para, então, se compreender como foi descoberta a idéia de sujeito, de agente dominador.

A modernidade é a época em que a alma se retira do mundo das coisas e recolhe-se no mundo dos homens, bem como a época em que os homens se acreditam suficientemente fortes e poderosos, qual um novo Prometeu.

Com todas essas novidades, o mundo parecia está desordenado, fragmentado e sem referência ou centro, era preciso achar alguma orientação ou método para centralizar o mundo. É aqui que a razão entra como aquela que vai restituir a unidade perdida, pois ela está para além das culturas e é universal. A razão é de fato, o elemento comum a todos os seres humanos e, por isso, assume a condição de fundamento a partir do qual o mundo deve ser organizado. É ela quem deve, a partir de agora, dar unidade e sentido a todas as esferas que compõem a existência humana. Tudo quanto pretenda ter legitimidade para existir necessita, pois, de submeter-se ao crivo da Razão.

Ela, a razão, desmonta antigas crenças e reconstrói o novo edifício do saber.

O Movimento Iluminista, grande propagador do projeto moderno, depositou uma confiança cega e ilimitada na razão a ponto de o século XVII ser denominado o “Século das Luzes”. A razão teria chegado a um tal estágio de desenvolvimento que ela seria capaz de dissipar as trevas da ignorância que obscurecem o espírito humano .

Kant, ao tentar dar uma resposta ao o que é o esclarecimento define-o como uma saída do homem para a sua maioridade.

A ideologia moderna alicerça toda forma de conhecimento num modelo natural sem relação a crenças religiosas, o que deve valer é o que se pode medir “e o individuo só está submetido às leis naturais”. O pensamento científico deve ser totalmente transparente e a sociedade deve refletir essa transparência sendo organizada pela razão.

O homem passa a interessar-se não tanto por aquilo que já é, mas por aquilo que ainda poderá ser. A Modernidade foi construindo assim um personagem independente, livre das pressões tradicionais.

Porém evoluímos com um mau uso da razão pelo homem, não legitimando a promessa iluminista. “A sociologia, por exemplo, que prometia conseguir o equilíbrio nas relações sociais, presenciou contraditoriamente o caos contemporâneo produzido pelo perverso e desumano uso da razão” . Habermas em o discurso filosófico sobre a modernidade, faz uma reflexão de uma razão que não busque conhecimento somente da relação sujeito objeto ou que ela não seja fechada em si mesma. Ele busca uma filosofia que seja pautada na comunicabilidade dos sujeitos frente aos novos paradigmas da modernidade.

Quais as conseqüências de uma razão que subjuga tudo em volta de si? Esse sujeito, guiado por um modelo de absolutização do racional presenciou inúmeras ações destruidoras: Confecção de bombas atômicas, massacres totalitários, as guerras mundiais dentre outros atos destruidores, tudo isso levou o sujeito a perder confiança na razão, entrando de forma descontrolada no universo das emoções.

Nietzsche já fazia a crítica à modernidade, o pensamento tradicional desde Aristóteles era totalizante e coerente com a realidade, a verdade era procurada em um sistema lógico e formal. Com Nietzsche há uma desconstrução do modo de pensar tradicional. Desfazendo a idéia de um pensamento sistemático, ele fundamenta sua linguagem filosófica na vontade de poder e a própria verdade é colocada em questão. Agora a verdade não está mais pautada na razão, (que se engana) mas na vontade.

Pós-Modernidade e sujeito

O termo "pós-modernismo" teve sua origem na Espanhana década de 1930. Mas foi o filósofo francês Jean-François Lyotard, com a publicação "A Condição Pós-Moderna" (1979), que expandiu do uso do conceito. Logo no inicio do primeiro capitulo dessa obra Lyotard usa o termo idade pós-moderna se referindo ao objeto de estudo em questão:

Em Lipovetsky o conceito é encarado como continuação do processo moderno e elevação exagerada de seus ideais,daí ele preferir usar o termo hiper-modernidade para se referir a esse processo. O termo “hiper” faz menção a uma exacerbação dos valores da modernidade, é a cultura do excesso determinada e marcada pelo efêmero em que o sujeito em ritmo acelerado busca a satisfação dos seus desejos.

A sociedade contemporânea é a mais alta fase da modernidade. É uma sociedade do excesso e do vazio que dão autonomia e produz novas formas de liberdade causando “novos problemas, novas angústias e novas expectativas”. Em “A Era do Vazio” o filósofo chama a atenção para a fragmentação da sociedade e seus costumes, o consumo, o hedonismo, o individualismo e a urgência de um novo paradigma social. Com o enfraquecimento de todos os setores da sociedade e,principalmente, do indivíduo contemporâneo emerge um modo“inédito” de vivência, “numa ruptura com o que foi instituído a partir dos séculos XVII e XVIII”.

Zigmund Bauman, outro filósofo contemporâneo, não utiliza o termo pós-modernidade, mas “Modernidade Líquida”. Em que os preceitos duros, sólidos e sedimentados da modernidade derreteram-se. Ele também concorda com Lipovetsky quando afirma que “a sociedade de consumo não é nada além de uma sociedade do excesso e da fartura”

Essa época, principalmente o século XX, é um ambiente de muitos contrastes, onde acontecimentos desastrosos dão a idéia de uma deserção social nunca ocorrida na História: o desenraizamento sistemático das populações rurais, depois urbanas, os genocídios e etnocídios, Hiroshima devastada,as bombas jogadas sobre o Vietnã e a guerra ecológica com produtos herbicidas, a escalada do estoque mundial de armas nucleares, as figuras do niilismo europeu....com certeza a lista se alongaria desmesuradamente se quiséssemos inventar todos os nomes do deserto.

Numa incessante busca do seu bem-estar e uma supervalorização do EU, o individuo moderno torna-se frágil e vulnerável á medida que se fecha para o outro e imerge dentro de si. Esse individualismo estimulado pelo consumismo foi esvaziando o sujeito a tal ponto que ele já não tem mais forças para lutar pelos ideais comunitários e transfere a responsabilidade política para os partidos por não ter tempo disponível para a “res publica” estando envolvido nos seus próprios negócios, em seu mundo, cuidando dos seus interesses.

Todas as instituições, organizações e todos os valores estão sendo esvaziados de sua substância. O saber, o poder,o trabalho, o exército, a família, a Igreja, já não estão em funcionamento como princípios absolutos e intangíveis. Há uma descrença geral em todos eles.

Entretanto, o sistema funciona e as instituições se desenvolvem multiplicando-se assustadoramente, a diferença é que agora num ritmo livre e leve, no vazio e sem sentido. É preciso saber viver ou sobreviver nos “espaços desativados”. Uma onda de apatia invadiu a sociedade que acompanhou a morte das ideologias e “a morte de Deus” prevista por Nietzsche.

 

Nietzsche nos carrega de culpa diante da depreciação mórbida dos valores e anuncia o niilismo europeu. Porém, Lipovetsky vê um deserto pós-moderno todo feito de indiferença e em que cada vez mais se afasta do niilismo. Não estando sob pressão, livre das correntes tradicionais e guiado pela lógica hedonista, a pós-modernidade forjou um indivíduo “narcisista” voltado para si mesmo em busca de satisfação e realização pessoal. Na verdade, o que caracteriza uma sociedade narcisista é a vivência do presente e não mais atrelada ao passado e ao futuro.

O sentido histórico já não faz mais sentido, as pessoas não se prendem mais às instituições e desacreditam em seus valores. É instaurado por assim dizer um narcisismo coletivo. A cultura narcisista é a celebração da aparência física, o triunfo do espelho e o culto da própria imagem

 Narciso segue um caminho incerto, mas consegue caminhar, atravessando sozinho o deserto, levando a si mesmo sem qualquer apoio transcendental, o homem de hoje é definido pela vulnerabilidade. O que Lipovetsky quer demonstrar a respeito do individuo é que a deserção da “res pública” foi limpando o terreno para a ascensão do sujeito puro, em busca de si mesmo.

Obcecado por ele mesmo pode desmoronar a qualquer momento por não se apoiar em nenhuma força exterior. “O homem descontraído está desarmado” .

Agora, os problemas da vida pessoal ganham proporções desmensuradas, a grade psicológica e psicanalítica tenta apresentar soluções para acabar com um devastador solipsismo. A solidão não é apenas uma excepcional idade de alguns “românticos”, ela tomou proporções populares.

Vemos o surgimento do homo “psicologicus”, ansioso por identidade e bem-estar.

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