O Conselho Federal de Medicina diz querer conhecer a
percepção dos médicos sobre a obrigatoriedade da vacinação infantil contra a
covid e promove uma pesquisa on line entre os médicos.
Esse fato gerou polêmica e críticas de entidades médicas,
como a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a Sociedade Brasileira de
Infectologia (SBI) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
No texto em que apresenta a pesquisa, em seu site, o CFM
afirma ter “o objetivo de conhecer a percepção dos médicos brasileiros sobre a
obrigatoriedade da vacinação” contra covid-19 a essa faixa de público infantil.
“A opinião dos médicos é fundamental para enriquecer o debate e contribuir para
a tomada de decisões futuras”, justifica a entidade. “Os resultados da pesquisa
subsidiarão o CFM no desenvolvimento de ações relacionadas ao tema”, conclui o
texto, sem dar detalhes sobre o objetivo.
Em nota emitida dois dias depois, na última quinta-feira,
11, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) desaprova a iniciativa e
defende a vacinação. “A covid-19 foi responsável por 5.310 casos de síndrome
respiratória aguda grave (SRAG) e 135 mortes entre crianças menores de 5 anos
no Brasil em 2023, de acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério
da Saúde, que reúne dados até novembro. A incidência e a mortalidade pela
doença na faixa-etária vêm aumentando desde 2022″, afirma a SBIm. “A pasta
também informa que foram notificados no país 2.103 casos de Síndrome
Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) – manifestação tardia da
covid-19 – desde o início da pandemia, com 142 mortes. Em 2023, houve 51 casos
e uma morte”.
A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Sociedade
Brasileira de Pediatria (SBP) divulgaram uma carta aberta à população na última
sexta, 12, na qual reforçam que “existem claras evidências que apontam os
benefícios da vacinação pediátrica na prevenção das formas agudas da doença,
reduzindo o risco de hospitalizações, bem como suas complicações em curto e
longo prazo na população pediátrica”.
As três entidades ressaltam que as vacinas são seguras e a
decisão de incorporação pelo SUS é baseada em evidências científicas robustas.
A SBIm aponta ainda que, após a aplicação de 47 milhões de doses em menores de
18 anos entre 18 de janeiro de 2021 e 31 de dezembro de 2022, as reações à
vacina foram consideradas leves ou moderadas (cefaleia, febre e outros efeitos
esperados). Não houve nenhum óbito relacionado à imunização. Os dados são do
último boletim de monitoramento de Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação
e à Imunização (Esavi), publicado pelo Ministério da Saúde.
Na conclusão da nota, a SBIm observa que “a pesquisa
realizada pelo Conselho Federal de Medicina não trará nenhum benefício à
sociedade, uma vez que – ao equiparar crenças pessoais à ciência – pode gerar
insegurança na comunidade médica e afastar a população das salas de vacinação”.
Resumindo : a atual gestão do Conselho Federal de Medicina
lançou uma descabida enquete para médicos opinarem sobre a obrigatoriedade da
vacina de Covid-19 para crianças. Iniciativa que alimenta uma controvérsia em
torno da vacina que não existe e nem deve existir, promovendo o negacionismo
médico-científico e teorias da conspiração.
Tudo isso é ainda mais grave em um contexto de desconfiança
por uma parte da população em torno das vacinas, que contribuiu para fazer
despencar a cobertura vacinal nos últimos anos
O que se esperava do CFM é que reforçasse para a sociedade
os inúmeros benefícios da vacinação para a saúde das pessoas. Esses, baseados e
respaldados em recomendações das entidades técnicas e científicas competentes
para analisar a segurança, eficácia e relação risco-benefício das vacinas. São
estas entidades as capacitadas para analisar de forma sistemática os estudos de
segurança, imunogenicidade, eficácia, além dos relatórios de farmacovigilância
produzidos mundo afora.
A vacina para Covid-19 foi incorporada pelo Programa
Nacional de Imunizações (PNI) ao calendário vacinal da criança, baseado em
decisão da Câmara Técnica Assessora do Ministério da Saúde, seguindo rigorosas
análises.
Fomentar questionamentos em torno da obrigatoriedade de
quaisquer vacinas do PNI, além de não ser ético, contraria o próprio Estatuto
da Criança e do Adolescente, no qual as vacinas são um direito fundamental da
criança, o direito à saúde e à vida.
O CFM deve abandonar de uma vez por todas essas pautas
negacionistas, que tanto mal fazem ao país, e ajudar a construir uma sociedade
mais justa e saudável.