quinta-feira, 26 de abril de 2018
o que é real
na vida virtual existe uma insistência para meramente explicar tudo de forma neutra
mas por definição não pode haver neutralidade pois se prioriza algo sempre
a vida virtual foi designada para maximizar a atenção , então se enaltecem posts com mais cliques e controvérsias
as experiências online e real estão mais inseparáveis a cada dia
o que se vê deve levar impacto no que se faz no mundo
o grande problema é que a distinção se torna mais nebulosa a ponto de gerar padrões de comportamento absolutamente arquétipicos
isso é evolução ?
quarta-feira, 25 de abril de 2018
desempenho
a maior plataforma social do mundo
2 bilhões de usuários
a sociedade do desempenho vagarosamente aprende que não é cliente e sim produto
o facebook dá lembranças de datas , uma determinada atenção
em troca de seus dados que depois venderão produtos , ideologias e elegerão politicos
a sociedade do desempenho por enquanto espera um clique
terça-feira, 24 de abril de 2018
o que acaba restando
não é o espelho que está embaçado
mas
o que permanece não dito
uma vida pode se tornar refém
como uma tarde decapitada
de algo que não ocorreu
continuamos a insistir
no paradoxo do tempo
assim
o que acaba restando são migalhas
domingo, 22 de abril de 2018
precisamos falar sobre antidepressivos
Um estudo bastante extenso,envolvendo mais de 100 mil
pacientes,foi publicado na prestigiosa revista britânica Lancet sobre a
eficácia das drogas antidepressivas.Este foi mais um trabalho que busca
esclarecer os reais benefícios desta classe de medicamentos.Um problema de
credibilidade , de inicio , foi levantado : 78% do que já foi publicado sobre
essa questão tem o apoio de industrias farmacêuticas que , de maneira
óbvia,publicam apenas resultados favoráveis aos seus produtos.A população
estudada incluiu pacientes com depressão moderada a grave e tinha como objetivo
avaliar mudanças na escala de depressão de ,pelo menos , 50% após 8 semanas em
uso de medicação.Porém analisando-se os resultados não foi possível afirmar-se
com certeza que na prática clínica essas drogas seriam significativamente
decisivas na melhora dos pacientes.Os estudos fazem comparações com placebo (um
comprimido de forma idêntica ao medicamento porém sem nenhuma substância
ativa). É muito importante destacar o numero de pacientes que se sentem melhor
nesse grupo.Sabemos que até 40% das pessoas usando o placebo relatam um bom
resultado após o período de 8 semanas.O estudo do Lancet concluiu que se 10
pacientes depressivos tomam medicamentos por dois meses , 5 irão relatar uma
melhora mas em 4 destes não será efeito direto da droga.O mais importante não
foi respondido : qual o efeito das
drogas em casos leves de depressão ¿ quais seus reais efeitos após 8 semanas ¿
quais os efeitos colaterais e sua magnitude ¿ quais os riscos de descontinuar
um tratamento ¿ qual o real beneficio
comparando-se os antidepressivos com terapias não medicamentosas ¿
É oportuno refletir sobre tanto a se conhecer.O que significa
se referir a alguém como doente ¿ Qual a decisão certa a ser tomada quando se
decide medicar ¿Existe uma crucial incerteza em se explicar o comportamento de
algumas pessoas.Podemos constatar que a medicina está perdendo o diagnosticador
para o especialista terapêutico.A sociedade aceita,infelizmente,até por
comodismo,a medicação como solução.Se damos autoridade a uma droga como
“tratamento” ,à pessoa como “paciente” , e ao seu pós tratamento como melhora
acabamos de definir uma resposta terapêutica como um critério diagnóstico
O filósofo Gilbert Ryle , no livro the concept of mind ,
escreveu que é um erro tratar a mente como um objeto.A medicalização que
observamos hoje é uma consequência da transformação das explicações religiosas
para explicações médicas que surgiram após o Iluminismo.O excesso de medicamentos
não é medicina ou ciência. É uma estratégia semântico-social que beneficia a
poucos e prejudica muitos
um problema silencioso
Existe um problema de saúde que custa muito e afeta muitas
pessoas.Chama-se não aderência à prescrição de medicamentos ( ou seja : não
tomar a medicação ou tomá-la de forma errada).
Os números que vêm à tona são impressionantes : 20 a 30 % das
medicações prescritas nunca são adequadamente tomadas.Em 50% das doenças
crônicas , que requerem que as drogas sejam de uso contínuo , elas são erroneamente
ingeridas.Cerca de um terço dos pacientes transplantados renais não usam suas
medicações anti rejeição.41% dos indivíduos hipertensos estão com o tratamento
descontinuado e metade das crianças com asma não usa seus inaladores
consistentemente.
Este problema é estimado em causar cerca de 125 mil óbitos e aproximadamente
10% das hospitalizações por ano nos Estados Unidos.E tem um custo : 100 a 289
bilhões de dólares para o sistema de saúde
O cirurgião Everettt Koop comenta que " as drogas não
funcionam em pacientes que não as tomam.Isto explica , muitas vezes , que novas
medicações têm resultados muito bons em fase de estudo e funcionam menos na
vida real ".
A não aderência é um amplo problema e não se visualiza uma
solução uma vez que existem diferentes razões para sua origem.Por exemplo : os
pais interrompem o tratamento da asma de seu filho porque não gostam da idéia
de manter " uma criança usando uma medicação contínuamente".
Outros pacientes enxergam a droga como uma "
quimica" ou um produto "não natural ".Para alguns , aderir a
novos hábitos de dieta e de exercício os farão deixar de lado a necessidade de
uma medicação.Os remédios responsáveis pelo tratamento de situações silenciosas
, como a hipertensão , são desprovidos de efeitos sintomáticos.Isso significa
dizer que não trarão benefícios de alivio de nenhum sintoma, por isso tendem a
ser descontinuados com bastante frequência.
Na infectologia o uso de antimicrobianos de forma inadequada
(principalmente com doses ou tempo de duração incorretos) implica na temida
resistência bacteriana
O custo é outro ponto importante.Preços altos , quando não
podem ser subsidiados , impedem até o próprio inicio de tratamento.
Diante deste panorama tão relevante esse é um desafio do
médico na compreensão do seu paciente.Uma maior empatia , um controle mais
acessível , uma discussão aberta e frequente podem ajudar.
Mas esbarraremos sempre na enorme diversidade do indivíduo e
suas pretensões.
Esse é o problema silencioso que está por trás de toda
relação médico - paciente.
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